Ela não entendia direito como as coisas tinham acontecido daquela forma. Só queria que ficasse tudo bem. Seria pedir muito?
Agora a realidade era diferente. Atrás dela, havia um monte de atos desmedidos – que não poderiam ser apagados. Na sua frente, uma realidade da qual ela não pediu para fazer parte. Como sair? A única solução era seguir em frente e ver no que daria. Jogar o dado da sorte pra cima e torcer para cair no número seis.
Mas manter a cabeça erguida não seria, nem de longe, uma tarefa fácil, afinal, no momento, todos os problemas pareciam bolinhas de gude acumuladas em seus bolsos. Vistas sozinhas, são pequenas. Acumuladas, pesam. E, olhando cada uma de perto, ela conseguia ver o reflexo do mundo aqui fora, mas um tanto distorcido.
E o pior é que colocavam a responsabilidade destes problemas em uma pessoa só. Mesmo que não falassem abertamente, ela conseguia sentir essa energia vindo em sua direção, como flechas imaginárias. Todas apontando para ela. Como se fosse sua culpa.
Mudar o pensamento das pessoas é complicado. Ela tentara, mas em vão. E agora? Como seguiria em paz sem levar isso em consideração?
Respire. Inspire.
Ela observou cada bolinha de gude de perto, tirando-as dos bolsos aos poucos. Se os outros quisessem a sua ajuda, ela a ofereceria também. Mas, agora, decidira focar em si própria. Ela merecia se sentir bem de novo. Por sua saúde mental e por seu direito de tocar a vida de um jeito mais leve.
O que importava, acima de tudo, era que sua consciência estava em paz. Ela nunca quis nada daquilo. Nunca procurou conflito algum. Ao se dar conta disso, sua vontade de sair correndo a um destino desconhecido até amansou um pouco.
Não tinha porque fugir. Por mais que os bolsos dos outros estivessem cheios, os seus agora estavam vazios. Ela se sentia em paz e repetia isso todos os dias, caso vacilasse. Não era culpa dela.