Uma das coisas mais tristes da vida é conhecer uma pessoa que já acreditou muito em algo e, hoje em dia, se vê tomada pela desilusão.
Aquela que para abruptamente no meio do caminho e, depois de tanto tempo transcorrido, não enxerga mais sentido em sua busca. Faz dormir sua criança interior e decide acordar o pedaço de si resultante das duras quedas pelas quais passou. É capaz, sempre, de renascer mais forte, mas perde pelo caminho um lindo pedaço seu, cheio de esperança.
Há também aquela pessoa que até realizou a sua porção de maravilhas, mas algo a fez achar que nada daquilo era muito relevante. E então ela minimiza seus feitos e joga a janelinha do passado na lixeira. Reinicia de forma diferente, como se o seu desktop nunca tivesse sido incrível. Agora, não importa mais. Tudo são bytes e pixels de qualquer formato e ela não vê mais graça.
Ambas, infelizmente, encontraram uma caixinha que vivia nas sombras e deixaram todas as suas expectativas lá. Pensavam estar fazendo o certo. Acharam que aquilo tudo não servia mais e teria melhor serventia no cubo escuro que estava ali perto.
Não hesitaram ao dar as costas e respirar uma vida nova, despida daquilo, por achar que, afinal, todas as perspectivas e fantasias eram um grande fardo. Não eram.
Não pesaria levá-las: não incomodavam ou faziam pinicar. Tampouco pareciam algo inapropriado, como um nariz de palhaço em meio a uma multidão séria.
Entretanto, para elas, não era assim. Ao olhar o breu da caixinha que as perseguia, viram todo aquele carregamento de probabilidades felizes como se representassem um grande pé de pato a ser usado numa ruela estreita e conturbada. Sentiram-se envergonhadas, pesadas, cansadas e exaustas.
Mas, por mais que levasse tempo, o quebra-cabeças voltaria a ser montado. Elas mereciam que esta fase de suas vidas tivesse um gran finale digno de cinema.
Ah, como queríamos que isso acontecesse depressa! Se pudéssemos, pegaríamos a caixa escura de cada uma e derrubaríamos aquilo no chão de seus quartos. Feito mães, pediríamos que guardassem tudo onde deveria estar: no coração, para ser bússola, e no fundo dos olhos, para ser sonho.