Estava na livraria. Quando entro neste tipo de loja, até me esqueço de que estamos ali para comprar. Grande parque de diversões este, né? Confesso que nunca passei muito tempo numa delas lendo um livro da minha escolha sem precisar comprar, já que, na maior parte das vezes, é uma visita de tempo curto e logo vou embora.
Nesta breve visita, os livros de títulos diferentes sempre me chamam atenção. Só que, vai lá, sou humana – e daquele tipo de humana que ama umas fofurices, então, sim, os livros de capas legais, mesmo que falem sobre o funcionamento do sistema nervoso, também me fazem parar e pensar “hmm, vamos ver o que tem aqui”.
Folheando as páginas de um destes livros de capa bonitinha, ele me contou um negócio que grudou feito chiclete. Cancelem o passeio: acabaram de abrir um portal bem aqui na minha frente: ali dizia que “estar em paz, muitas vezes, não significa estar feliz”. E que estas duas coisas não andam juntas.
Há algum tempo eu ignoraria tudo isso. É incrível como a maturidade acaba nos trazendo mais do que alguns vícios novos (oi, café!) e um tanto de experiência em algumas situações que antes não saberíamos como agir (encontros inesperados, cobranças de soluções, decisões rápidas). Antes eu olharia para esta frase e pensaria “mas o quê? Meuamô, eu quero é ser feliz”!
Hoje eu penso diferente e só me falta colocar os óculos, sentar na poltrona e cruzar as pernas com as mãos no queixo estilo O Pensador, do Rodin (será que foi a tal maturidade que me permitiu fazer uma comparação clichê dessas? Ai meu Deus…) para refletir: é verdade e eu não poderia concordar mais.
Estar em paz é tão bom quanto estar feliz.
E as coisas não precisam estar associadas – na maior parte do tempo.
É claro que estar feliz feat. estar em paz é tipo um suprassumo das experiências, quando a roleta para e cai nas três cerejinhas, te dando o grande brinde. Só que não é sempre que isso acontece e viver esperando por este momento nos faz adiar o presente para esperar algo que talvez nem aconteça. Calma. Não estou falando que não vai acontecer – mas a gente não precisa ficar aguardando pra ver o que vai rolar.
De vez em quando, mesmo inconscientemente, eu acabo achando que paz é sinônimo de tédio. Não vou mentir. Você concorda comigo se disser que ama agito, novidades, mensagens do crush, convites repentinos e promessas de um dia diferente. Esta movimentação acaba trazendo o sorriso no rosto. Nos fazendo feliz.
E aí a paz, coitada, como é que fica? Fica pra quando estamos em casa e está chovendo lá fora, quando você não tem o que fazer no domingo pela tarde e para as definições de que, se ela fosse uma temperatura, provavelmente seria morna.
Que nada. Engano. A paz também pode ser gelada ou quente, como uma tarde de dezembro aqui do hemisfério sul.
A paz é um encontro de você consigo mesma, em que você se sente bem por ser quem é. É se despir de tudo que o mundo foi deixando em você enquanto andava até aqui e respirar fundo, apreciando só o agora – e mais nada. Mesmo que estejamos no meio de um trânsito caótico ou um show barulhento, o silêncio que vem de dentro nos faz calmos. Tão bom que nem parece de graça.
E o que eu havia lido ali era que nem sempre vai ser nos momentos mais felizes que essa serenidade chegará. No dia da livraria, eu tinha acabado de receber uma mensagem que trazia um problemão – de verdade. Não estava lá muito feliz. Mas naqueles momentos consegui me sentir em paz. E foi tão bom que eu precisava vir aqui dizer para a gente valorizar mais esse sentimento.