“Esta música deixa qualquer pessoa animada. Por que ele não está animado também?”
Eu só conseguia pensar nisso enquanto minha cabeça se dividia em dois caminhos distintos: o primeiro analisava seriamente que, ao pensar desta forma, eu estava estabelecendo uma ditadura musical – em que a ditadora era eu. Se a música era boa para mim, tinha que ser para todos. Ou seja, logo percebia esta grande besteira, desmanchava o meu próprio regime imaginário e voltava ao ponto zero: “deixe-o se sentir bem com a música que quiser, vai”.
Já o segundo caminho fazia questão de reunir uma série de situações. Sim, era ele o responsável por todas as vezes em que o ascendente em Câncer falou mais alto e a cachoeira de discussões do passado me atingiu com tudo. Agora eu achava que as coisas estava necessariamente conectadas: ele não via graça nas coisas que eu gostava. Ele não acreditava no que eu acreditava.
Isso tudo seria perfeitamente normal, já que estamos falando de dois seres distintos – e partindo do fato incontestável de que todos nós somos diferentes. Mas, na verdade, os exemplos que dei foram só detalhes perto das vezes em que senti que não estávamos na mesma vibração. Aquela sensação já não me era estranha.
E antes que a minha mente pudesse pregar uma cilada egocêntrica, como quem me pinta num nível elevado, eu também sabia que não se tratava disso. Essa escada que percorríamos juntos também o levava para cima: afinal, estamos todos querendo ser pessoas melhores, certo? Mas, entre a minha escada pessoal e a dele, havia muita diferença a ser levada em consideração.
É como se estivéssemos em um universo diferente – e, pensando nisso, em universos diferentes a gravidade não é igual. Os tempos eram outros, os jeitos eram outros e, as motivações, totalmente diferentes. Cada um está em seu próprio processo.
Vendo por essa perspectiva, dá para entender porque ele não se animou com a tal música. Não dá para esperar que alguém funcione na mesma frequência que você, e tampouco a vida faz sentido se a gente se cercar apenas dos que andam dando os mesmos passos. Ela fica divertida e é prazerosa ao ser compartilhada assim, mas, enfim, se todo mundo concordasse, que graça teria? Além de tudo, o que teríamos a aprender?
Por outro lado, é claro que a gente também não quer alguém que não esboce um mínimo sorriso por nenhuma das nossas músicas. O meio termo acaba servindo aqui. Não precisamos de pessoas que estejam num universo totalmente oposto ou que sejam exatamente feitos aos nossos moldes – apenas que os processos pessoais, vez ou outra, cruzem-se.
Troquei a música.