Outro dia, ouvi uma pessoa dizer que uma fase muito complicada surge para a gente aprender e absorver algo de bom para, assim, superar tudo – inclusive o que aconteceu de bonito antes – e dar um passo adiante para encontrar algo bem melhor que, inevitavelmente, estará ali. Coisas boas vêm após impulsos delicados: você pula para não queimar o pé e, quando salta, alcança o arco-íris.
Achei legal, mas não tinha provado disso na prática. Fiquei mentalizando que, se alguma coisa difícil acontecesse, eu deveria usar isso para amenizar sentimentos ruins que inevitavelmente viriam. Depois de um problema, o receio. Depois de uma notícia ruim, o pesar. Depois de uma discussão, a tristeza. Com tudo isso, a ansiedade, o medo, a desolação que sentimos quando o peito aperta e parece não caber mais nenhuma gotinha d’água dentro deste corpo que habitamos.
Não esperei uma oportunidade de provar a ideia, porque, afinal, sei que a vida é assim mesmo e coisas complicadas acontecem o tempo inteiro. Só busquei esquecer e me lembrar disso na hora conveniente. Torci para que me lembrasse, porque sei que não é fácil. Pois bem.
Aconteceu. E me lembrei.
Num dia em que estava tudo bem, de uma hora para outra, uma escolha que fiz levou o meu mundo a ficar de cabeça para baixo. Às vezes, acho que é mais difícil quando estamos em paz e alguém perturba a nossa calmaria, trazendo notícias ruins. Mas só quem já experimentou correr riscos por si só sabe o quanto pode ser ainda mais desafiador ver a onda nos cobrir quando fomos nós mesmos que escolhemos enfrentar o mar bravo.
Tomei uma decisão e ela foi como um sopro que desfez um castelo de cartas lindo que me cercava. Tomei uma decisão e as pessoas ao meu redor não a aprovaram como eu acreditava que aconteceria. Não vou dizer que, depois do que decidi, não esperava por resultados negativos… O problema é que somente vieram resultados negativos. E aí? Como não querer voltar no tempo e apagar tudo com uma grande borracha?
Foi então que me lembrei da tal frase que avisava que os males sempre precediam as grandes ascensões. Sentei e tentei ver todo o cenário horrível em volta de mim, procurando por algum pontinho de luz e alguma brecha que me possibilitasse andar por um novo caminho.
Então percebi que, quando as coisas desmoronam é para isso mesmo, para que a gente se force a seguir em frente por um lugar desconhecido. Abrir a porta que sempre esteve atrás das tralhas deixadas pelos nossos receios e encarar aquilo que já era nosso antes de sabermos. Teve mesmo que vir uma tempestade. Se não chovesse daquele jeito, eu continuaria ali, imóvel, sem ultrapassar limite algum.
Agora estou andando. Não pense que está tudo bem, porque ainda vêm lágrimas nos olhos e vontade de parar, voltar, ver se o pessoal que ficou lá atrás ainda me aceita de volta se a gente botar uma pedra em cima disso e fechar a porta que eu mesma abri. Dá vontade de desistir, sim. Não é fácil. Ainda mais quando a gente olha para as janelas alheias e percebe que todos estão na segurança de seus lares, com o sorriso aberto e bem longe destas gotas frias.
Mas, embora esteja frio e doendo, eu sei, de verdade, que o final com sol quentinho vai ser trinta vezes melhor do que tudo isso, ainda mais bonito do que a calmaria que deixei para trás.
Não consegui levar comigo nenhuma lembrança bonita, porque, na verdade, elas me machucam. Não consegui colocar para tocar nenhuma música alegre, porque ainda não me sinto neste clima. Na minha mochila ainda não tem a positividade da qual eu preciso e a euforia que me seria necessária. Só que, pelo menos, existe confiança – que sabe que nada disso é à toa.
Eu não estou legal, mas sei que, quando o momento chegar, existirá uma versão de mim que nunca experimentou tamanha felicidade. E, sei lá, agora vejo que ela estava esse tempo todo esperando uma escorregada do destino para nascer. E foi numa casca boba de banana que eu deslizei e caí.
Quando me levantar, tenho certeza de que saberei de tudo. Ao menos 1%, pelo menos, já compreendi agora: eu tive mesmo que passar por isso.