Do nada, o meu valor foi diminuindo. Como aquele balão depois de um aniversário – que a gente traz pra casa e o vê murchando e murchando até decidirmos que o negócio está feio parado no meio do quarto e resolvermos estourá-lo de uma vez e jogar o resto fora.
Nunca fui de receber bem elogios (como quem concorda no mesmo instante e diz “obrigada, sou mesmo”). Sou mais do time do “deixa disso, hehe, mas valeu”. Tinha modéstia, mas, no fundo, eu me sentia bem comigo mesma. Estava tudo ok.
O meu corpo me parecia legal. A minha vida me parecia legal. Estava feliz com as coisas que fazia, com a rotina que levava. Me olhava no espelho e dizia: poxa, que pessoa legal eu sou.
Só que, quando tudo desmoronou, de repente me vi tentando ser outra pessoa. Outras pessoas.
Tentando ter o corpo que não tinha – porque eu precisava sim de alguns centímetros a mais de peito para ser bonita.
Tentando “dar um jeito” no meu cabelo, porque embora eu tivesse tomado a decisão de deixá-lo natural, os fios da maioria eram lisos – o meu chamaria atenção.
Tentando ser, bem, aquilo que eu já tinha escutado em outras vozes: mais mulher, menos menina.
Logo eu, que sempre achei o maior barato me sentir menina. Ter o coração empolgado pelas coisas que outros podem encarar como infantis. Logo eu, que sempre li textos que ressaltavam nossas diferenças individuais e me sentia feliz por ter cada uma delas.
Eu estava ali. Achando que era pouco e que precisava ser mais, bem mais, e diferente do que sempre fui. Para melhor ou pior, nem sei: só achei que deveria que caber numa forma, mesmo que me sentisse apertada.
Achei que, dessa forma, ele iria me querer assim como passou a querer as outras pessoas que não eram eu.
É. Tinha isso dentro de mim. Bem forte. E achei ainda mais: se nem ele, que me conhecia tão bem e sabia de cor todos os meus papos e graças, estava gostando de mim, quem mais gostaria? Qualquer outro mal chegaria a conversar, já me cortaria na primeira imagem!
Eu achava que não era suficiente. Me olhava no espelho e enxergava tudo muito tosco. Do que adiantava eu mesma gostar de mim se os outros não gostariam?
Acontece que, na verdade, o que não tinha percebido é que essa frase estava errada desde o início. Para começo de conversa, eu não estava me amando nadinha. Por conta disso é que nada adiantava. E não adiantaria mesmo.
Eu estava me deixando de lado, me abandonando aos poucos para entrar num mar de gente e tentar falar que era igual, que tinha entrado no padrão. A troco de quê?
Pois é, me enterrei e só percebi isso quando, por um acaso, me olhei no espelho sem querer e vi ali por baixo de tantas camadas a antiga eu, que sempre fui, querendo sair. Um brilho lá no fundo. Peguei-o pela mão, puxei de volta e o salvei.
Nesse dia, ganhei um presente. Fiz as pazes comigo mesma, permiti que me sentisse bem de novo, que voltasse a gostar de cada detalhe que me fazia diferente do resto. Me ganhei, embrulhada e pronta, para mim mesma – e isso estava tão, tão suficiente, que eu não precisava me dar de presente para ninguém.
Foi assim que percebi: antes, jogava todo o meu valor em quem não me enxergava de verdade. Jogava água na areia quando eu só precisava regar a minha própria plantinha, dia após dia, para continuar crescendo saudável e bem. Em paz comigo mesma.
Estou voltando a mim.
E sabe qual é a melhor parte? É que, para isso, não preciso esperar por ninguém.