Publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, o livro “Manual da Faxineira” chegou até nós graças a uma indicação no Insta da Liliane Prata, escritora ex-colunista da revista Capricho e que hoje é editora de comportamento da Cláudia. O livro é uma coleção de contos escolhidos da autora Lucia Berlin – e nós já podemos adiantar que gostamos MUITO da obra. Quer saber o motivo? Continue lendo esta resenha! :)
A obra tem 536 páginas, ou seja, é um exemplar bem gordinho e que não cabe em bolsas menores para uma leitura rápida, por exemplo. E a gente recomenda mesmo que a leitura seja feita devagar, para que a essência de cada conto seja captada. :) Sobre outros aspectos físicos, sua capa é bem simpática, em rosa e vermelho, e as folhas por dentro são amareladas, em papel pólen.
Lucia Berlin teve uma vida repleta de eventos e reviravoltas. Aos 32 anos, já havia vivido em diversas cidades e países, passado por três casamentos e trabalhado como professora, telefonista, faxineira e enfermeira para sustentar os quatro filhos. Lutou contra o alcoolismo por anos antes de superar o vício e tornou-se uma aclamada professora universitária em seus últimos anos de vida. Desse vasto repertório pessoal, Berlin tira inspiração para escrever os contos que a consagraram como uma mestre do gênero. Com a bravura de Raymond Carver, o humor de Grace Paley e uma mistura de inteligência e melancolia, Berlin retrata milagres da vida cotidiana, desvendando momentos de graça em lavanderias, clínicas de desintoxicação e residências de classe alta da Bay Area.
O primeiro conto já começa de uma forma peculiar, anunciando o que viria ali. O estilo da escrita de Lucia é, digamos, diferente. Não dava para usar outra palavra aqui, já que nunca tínhamos lido nada dela antes. Ao mesmo tempo em que descreve bastante os fatos, não há um pensamento que percorre todo o enredo com um tipo de moral. São os fatos pelos fatos, a realidade ali se desenrolando numa lembrança que pode trazer diferentes interpretações ao final do que foi lido. É sutil e, ao mesmo tempo, cheio de força. Não faz alarde, não grita nos nossos ouvidos: passa assim como a vida, de forma complexa e natural.
E assim seguimos para o próximo e o próximo – logo a leitura torna-se viciante. A impressão é de que estamos conversando com alguém que já viveu muito! Tudo é, ao mesmo tempo, muito rico e também simples. Exatamente como a vida de uma mulher! Ainda mais Lucia, que desempenhou diversos papéis na sua: a autora já foi enfermeira, assistente, professora e muito mais.
Uma vez habituadas ao estilo da autora, fomos nos apaixonando por cada palavra. Começar um novo conto virou uma atividade prazerosa e somos gratas por ela ter deixado tanto material bom (a escritora faleceu em 2004, devido a um câncer).
Em “Manual da Faxineira”, percebemos que, por fim, somos colocadas em contato com temas muitas vezes delicados e difíceis, como abuso, abandono e traumas, por exemplo. Mas tudo é dado de uma maneira muito honesta, que nos faz absorver a leitura por completo e entender totalmente o que se passa com cada personagem, mesmo em suas entrelinhas. O livro é realmente ótimo – surpreendeu e virou favorito!
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