Ela apenas não esperava. Antes, seus planos eram muito consistentes, todos indo em uma mesma direção e há muito tempo traçados da mesma forma. Foram alguns pingos nos is postos ao decorrer dos anos que fizeram com que ela achasse que aquela era a sua vida. Seu destino, invariavelmente, seria o mesmo desenhado em sua cabeça.
Aí veio o tombo.
Ela caiu feio no chão e machucou mais do que os dois joelhos e as palmas das mãos. Esfolada não só por fora, mas por dentro, se deu conta de que nem tinha visto o obstáculo pelo qual passara. Levantou-se e, mesmo doendo muito, ainda tinha a certeza de que era só questão de voltar para o caminho original.
Quando chegou, percebeu que a passagem estava interditada. Não havia como continuar. E agora?
Foi quando ela olhou para os lados e, bem, a visão não era bonita. Ao seu lado, estavam pessoas que não tinham nada a ver com ela, que passavam esbarrando e mal olhavam em seus olhos. Tinha um clima que incomodava. Aflições, receios, dúvidas e mais um bocado de sentimentos conflitantes que chegavam aos montes, a cada novo piscar de olhos.
Sentou-se e se desesperou. A culpa veio ocupar a cadeira ao lado: ah, como ela desejava não ter tropeçado! Como ela gostaria de voltar àquela continuidade boa, quentinha e confortável! Ela era tola de não prestar atenção no que a fizera tropeçar…
Neste momento, é verdade, o perdão é muito difícil de ser encontrado. Talvez estivesse amassado ali na sola de seu sapato, ela mal poderia saber.
Então ficou por ali bastante tempo. Não sabia mais o que pensar, qual ação tomar, o que fazer dali em diante. O dia seguinte veio e parecia um pouco melhor. Ela não se levantou. O próximo trouxe até uma mão amiga tentando fazê-la se reerguer. Nada. E foram muitos e diferentes nadas até que ela respirasse fundo e decidisse voltar a andar.
Quando esse dia chegou, ela não pensou em mais nada – depois de tanto silêncio, sua cabeça estava limpa. Ela só deu um passo após o outro e deixou o resto se desenrolar. Aos poucos, começou a se sentir melhor. Ao espiar de um lado, veio uma ideia. Ao conhecer uma pessoa nova, surgiu um pensamento. Neste caminhar, tudo era novidade – e as coisas iam se somando sem que ela percebesse que estava se reconstruindo.
Depois que tudo se encaixou, se deu conta de que o tombo não foi em vão. Ela tinha escorregado, sim, mas para ganhar uma chance de fazer tudo mudar.