Comprei uma bala que faz o cabelo crescer. A primeira pergunta que você fará, com certeza, será “e aí, cresceu?”. Vou frustrar as suas expectativas e dizer que ainda não posso dar grandes respostas. Mesmo comendo-a diariamente, duas vezes ao dia e há quase um mês, ainda não notei um efeito Rapunzel.
Sigo em frente porque ainda falta um tanto para o pacote terminar (e também porque ela é boa). De morango, sabe? Antes, a tarefa de abrir um pacote de balas ou pegar uma no meio da tarde soava como uma atividade inútil do meu dia, em que meu subconsciente travava uma batalha contra si mesmo – indagando e respondendo sem parar:
– Pra quê bala agora?
– Porque estou com vontade de doce.
– Mas se quer doce, faça melhor, pegue logo um chocolate!
– Hm… na verdade, eu nem devia comer doce, né? Uma fruta agora iria bem.
– Que preguiça de descascar laranja…
– Ok, pegue lá a bala.
Coloca-se na boca e pronto, problema resolvido. Mas não todos os dias, porque eu tenho limites – se a vontade fosse diária, configuraria uma certa obsessão por balas e aí a cabeça já começaria a maquinar sobre cáries, dor de barriga e sei lá mais o quê. Eu quase fui jogar no Google a questão para saber quais são os lados negativos de ser uma louca por balas, mas desisti no meio do caminho: a gente já sabe que tudo em excesso não faz bem.
É tipo reclamar: um negócio que a gente faz, é claro, mas que sabemos que, se virar rotina, aí complica. Você reclama uma vez do controle da televisão que sumiu, mas se reclamar todos os dias sobre o tal controle desaparecido, com certeza alguém vai dizer o quanto você está chata – e, acho eu, com razão. Ou te lembrar que você já deveria ter arrumado um lugar fixo para o controle (mesmo que ele insista em cair no buraco negro do sofá sem intervenção alguma sua – deve ser um gnomo).
A gente reclama um pouquinho de uma coisa ou outra no nosso cotidiano. Algumas pessoas reclamam mais, é claro, e por muitas coisas diferentes. Talvez estejamos reclamando de uma brisa leve, que insiste em entrar – mesmo com a janela fechada, e, agora, neste mesmo instante, um rapaz chamado Valter pode estar reclamando de uma dor latente no pé quebrado. Ok, não vamos partir para um campeonato de méritos, mas a gente dá uma carta branca para o Valter, sim.
Só que falar mal da brisa todo santo dia já são outros quinhentos. A jaqueta está ali pendurada, poxa!
Por outro lado, é chato quando todo mundo diz que a gente deve (ou não) fazer religiosamente algo sempre, todos os dias. Não reclamar por besteira, ser grato pela vida, beber dois litros de água, ser empático com o outro, dar seta antes de virar a curva. E a gente sabe que nem sempre rola dar conta de tudo, ontem, por exemplo, eu só bebi uns dois copos d’água e olhe lá.
A bala que faz crescer o cabelo é tipo isso. É uma bala, sim, e teoricamente tem açúcar e pode causar cáries e todos aqueles trelelês da bala normal. Mas ela e a palavra “diariamente” foram feitas uma para a outra. Vem escrito na embalagem, né? Uma licença e tanto para colocá-la na boca antes mesmo de a mente tentar dizer outra coisa.
– Bala agora? Às 10h30 da man…
– Shhhh.
Se eu poderei jogar as minhas tranças de mel da torre em breve, eu não sei. Mas ela é tão docinha…