Desta vez, não vou sofrer por antecipação.
Foi o que repeti a mim mesma 30 vezes enquanto respirava fundo.
Neste momento, lembrei daquele documentário que eu havia assistido: ele batia na tecla do discurso motivador daquela @ que eu tanto amava seguir no Instagram: você não pode ficar repetindo algo que deseja com a palavra “não”, porque o universo não entende “não” e vai assimilar só o resto da frase. Ou seja, o contrário é que acontecerá.
Certo, pelo sim ou pelo não, quem sou eu para desafiar o universo, não é mesmo? Vou excluir a negativa e tratar de pensar em algo que não se anule e, vai saber, que acabe me ferrando ainda mais no fim das contas. Ok, ficarei tranquila, tranquila e mais tranquila. Está vendo? Já está até fazendo efeito – estou tranquila (mentira, mas tudo bem. É sempre válido repetir o mantra).
A situação, foco de todo o problema da ansiedade excessiva, dependia única e exclusivamente de mim. Posso falar para você qualquer destas a seguir que dá na mesma: uma prova, entrevista muito importante, reunião com quem mal conheço, dia de decisão… Se eu pontuasse uma só ou todas, não importa, o ponto comum é que são experiências que demandavam algo que nunca foi tão fácil por aqui: eu sabia que só precisava confiar mais em mim.
Sempre fui o tipo de pessoa que, ao primeiro dos vacilos, já estava lá, bem bonita, jogando o pano. Quer mais uma desistência? Toma, tenho outros aqui para dar. Imagino uma cena de vila medieval comigo jogando lenços e lenços pela janela de tantos foram os planos que já abandonei por este caminho.
Não tem nada de honroso nessa frase, bem sei, até deu uma certa vergonha admitir isso, mas, nos páreos dessa vida, sempre fui a café com leite:
– Tudo bem, galera, se não cabe, não precisa me incluir, não.
– Tudo bem, eu perdi a partida, mas nem fui tão bem assim, mesmo!
– Tudo bem, eles não me escolheram, mas devem ter um ótimo motivo.
Tipo aquela questão da prova que dá problema e o aplicador manda anular. Deu algo errado? Logo estava eu com a caneta a postos para riscar-me por inteira e levantar a cabeça sorrindo: ufa, agora já está tudo certo, pelo bem da nação. E eu? Estou ótima, nem se preocupe.
Força, garra, vontade – te juro que não é falta de nada disso. Tenho um leãozinho aqui dentro de mim, querendo rugir e fazer-se imponente em alguns momentos. Mas ele é coberto de vergonha, insegurança e de um tipo de “apaziguador natural”, que não sei de onde veio, mas que sempre diz: só você está se ferrando, não é? Olhe bem para os lados. Não está prejudicando mais ninguém? Então ótimo, você se vira!
Só que, no final das contas, não está tão ótimo assim. Está errado.
Eu sei que tenho que aprender a engrossar a minha voz e insistir para quem diz que sou errada: olha, não vou me anular, tenho certeza de que estou certa. Eu preciso aprender a jogar as minhas cartas na mesa e me mostrar forte e, por que não, vulnerável ao mesmo tempo, por mais que o mundo grite comigo.
Eu posso gritar também. Aqui tem voz. Então o que me falta? O necessário é largar essa hesitação e me recordar, mesmo que seja muito difícil, de que tudo o que preciso está bem aqui, comigo.
Se eu tenho experiência, resolvo. Se tenho aprendizado, faço. Se tenho humor, provoco o riso. Se tenho argumentos, convenço. Se tenho a direção, sigo e vou. Eu chego. Eu aconteço e faço acontecer.
Estou tranquila. Amanhã vai dar tudo certo. E o meu maior amuleto é a certeza, que, mesmo tímida, mora dentro de mim.