Quando adolescente, eu morria de medo de quase tudo que estava fora minha da zona de conforto. Mesmo assim, aos 15 anos, embarquei sozinha para o exterior pela primeira vez. 20 dias na Califórnia no meio do semestre escolar. Podia ser um sonho, né? Foi divertido, mas as crises de ansiedade durante a viagem só confirmaram que esse negócio de se jogar no desconhecido não era pra mim.
Corta para 13 anos depois. Hoje, aos 28, viajar sozinha virou um vício. Ué?
É quase como uma droga – que não me vejo largando nunca. A boa notícia é que não tem risco de overdose e os efeitos são mais do que positivos: superei várias inseguranças, me tornei mais confiante e me apaixonei pela minha própria companhia.
Virei uma evangelizadora de viagens. Depois de quatro intercâmbios, um mestrado no exterior e um punhado de mochilões, não me faltam argumentos pra advogar em prol da causa. Não posso ver alguém com medo de se jogar no mundo, ou inventando desculpas, como falta de companhia, que já me seguro para perguntar: “você tem um minuto pra ouvir a palavra da viagem solo?”.
Sim, acho divertidíssimo viajar com amigos, amores, família. Mas acho melhor ainda realizar sonhos sem precisar esperar por ninguém. E, de quebra, viver experiências incríveis, com um punhado de insights que você provavelmente não teria se estivesse acompanhada.
Quer entender por que, afinal, fiquei viciada em viajar sozinha?
Porque me dá flexibilidade e autonomia
Quem já viajou com grandes grupos sabe bem: quanto mais gente, mais difícil conciliar os desejos de todos. Se essa “gente” se reduz a você mesma, problema resolvido, né? É bem verdade que ceder às vontades dos outros é importante para o convívio e que muitas vezes nos faz descobrir que até gostamos daquele rolê que não parecia nada interessante.
Mas que delícia é poder decidir mudar de rota a qualquer momento, parar onde bem entender, deitar na grama de um parque quando der vontade, ignorar um ponto turístico que não te atrai, acordar na hora em que o corpo pede…
E estar, também, muito mais disponível pra receber os estímulos dos arredores. Escutar sons e conversas, sentir cheiros, se concentrar no momento. Ou não fazer nada disso se der preguiça. ;)
Porque é mais fácil conhecer pessoas novas
Quando a gente viaja acompanhada, pode até conhecer gente, mas é bem mais cômodo ficar na bolha confortável e quentinha do seu grupo. Viajando só, você pode preferir ficar realmente sozinha – e não tem nada de errado com isso. Mas, se quiser interagir, não tem coisa mais simples. Às vezes acontece até sem querer: você vai pedir uma informação e, conversa vai, conversa vem, fez uma bff. Está tomando café da manhã no hostel, esbarra em alguém, tcharam, novo amigo.
É que, fora da rotina, vivendo a intensidade da estrada, as pessoas tendem a ficar mais abertas e dispostas a trocar umas com as outras. E, nessa brincadeirinha, podem surgir alguns dos encontros mais interessantes da sua vida.
Porque me força a superar medos
Comecei a viajar como forma de “hackear” a minha mente para superar aquelas inseguranças e crises de ansiedade que mencionei lá em cima. E tem funcionado, viu? Aposto que vai funcionar para você também, caso você tenha receio de viajar só, principalmente para outro país.
Seja medo de não conseguir se comunicar direito em outro idioma, de se perder, de falar com desconhecidos, de não saber como as coisas funcionam… Na prática, você não vai ter muita opção além de enfrentá-los. E, pouco a pouco, vai perceber que criamos na cabeça uns monstros muito maiores do que a realidade.
A parte boa é que, a cada barreira cruzada, você vai se sentindo mais confiante para superar outros obstáculos. E tudo isso no seu ritmo, sem ninguém para julgar, observar ou pressionar. Pode acreditar: a sensação de orgulho que vem a cada conquista é ainda mais gostosa do que aquele prato de macarronada italiana.
Porque me ajuda a me conhecer melhor
Arrisco dizer que essa é a maior recompensa. É incrível se divertir, ver lugares lindos, comer comidas maravilhosas e aprender sobre o mundo. Mas o maior presente que as viagens me deram – principalmente as sem companhia – foi o autoconhecimento.
É impressionante o poder de sair da rotina, se colocar em situações inusitadas e ter tempo e distanciamento pra pensar sobre a vida. O efeito, claro, é maior ainda quando você se propõe a transformar a viagem em algo além de um passeio. A parar pra pensar no que te faz bem ou não, tentar entender que tipo de programa te agrada, analisar suas reações a situações novas. Viajar pra dentro é revolucionário.
Porque me permite ser quem eu quiser
Viajar sozinho nos permite ser quem quisermos, até quem realmente somos. :) Passamos a vida contando histórias pra nós mesmos sobre quem somos e acreditando nos papéis em que nos colocaram. A inteligente, a extrovertida, a desastrada, a baladeira, a nerd… Qualquer que seja sua “caixinha”, tá tudo bem sair dela quando quiser.
Afinal, não tem ninguém ali pra dar satisfações. Ninguém pra falar (ou pensar) que aquele comportamento não tem a ver com você. Se sempre foi tímida… E se der vontade de puxar assunto com alguém no bar do hostel? Por que não? Se não sabe dançar, mas passou por uma aula de salsa e ficou a fim de entrar, o que te impede?
Aproveite as chances de explorar limites e desejos com muito mais liberdade do que nas amarras da rotina e dos seus círculos sociais. A cada novo dia de viagem, você pode preencher uma folha em branco com o que der na telha e descobrir novas partes de si mesma.
Vai dizer que não é viciante?
Por Luísa Ferreira, 28 anos, Recife (PE).
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