Ocupar lugares físicos no espaço é a coisa mais fácil que existe, assim como perceber que já faz um tempo que você deixou de viver e virou parte da mobília do seu quarto, por pura conveniência. Enxergar no escuro é uma tarefa difícil, mas essa é a única alternativa quando precisamos separar tempo e espaço e seguir em frente.
Eu achava que a Terra era colorida, mas entre uma ponta do abismo e a outra, tudo ficou azul e eu resolvi morar ali. Acho que não tem sensação melhor na vida do que a de saber que se está no lugar certo, e tenho certeza de que uma das piores é perceber que você não pode mais viver neste lugar, porque seu futuro depende da mudança, e de locais novos que podem ser incríveis para seis milhões de pessoas, mas não para você, por mais que dê tudo de si pra tentar se adaptar.
Uma das primeiras coisas que me perguntam depois que sou apresentada a alguém é onde moro, ou de onde vim. Eu queria poder dizer, mas não acho palpável resumir esta resposta em uma vida de final de semana. Cento e quarenta quilômetros podem não parecer nada, mas mudaram tudo pra mim.
De acordo com a Física, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo, mas já vivi o suficiente para perceber que o coração e a mente podem o que eles quiserem. Antes eu tinha um endereço fixo na ponta da língua, e um lugar para o qual amava voltar depois de passar dez horas na escola. Agora percebo que moro em todas as coisas boas que já fizeram por mim, no dia em que descobri que eu era capaz, nos sorrisos das pessoas que amo e na certeza de que, em meio a tanta coisa ruim no mundo, nunca estou sozinha, mesmo quando penso estar.
Casas desabam, contratos de aluguel acabam e endereços podem mudar, mas quando você faz da sua mente o seu lar, nenhuma distância deste mundo pode te impedir de permanecer e de encontrar a paz que você precisa para fazer o que tem que fazer. É só dar tempo ao tempo e deixar o seu coração te contar estes segredos – assim como o meu contou pra mim.
Por Isabelle Costa, 21 anos, Mendes (RJ)
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