Algo inusitado aconteceu depois que eu completei 30 anos. Não. Não foi um novo fio de cabelo branco, uma segunda dobrinha quando tiro foto sorrindo ou o aumento significativo dos sintomas da TPM. Tá, foi tudo isso também, mas não é disso que quero falar hoje. O que me chamou atenção depois que comecei a falar em voz alta que estou nesse mundo há mais de três décadas foi o fato de eu ter tomado mais consciência de mim mesma. Assim, de um jeito avassalador. Características que antes passavam despercebidas ou que facilmente eram direcionadas para o outro, agora ficam escancaradas na minha mente como uma aba aberta sem o botão de fechar. E aí vem o questionamento: eu tenho me tornado tudo isso ou eu sempre fui assim e apenas agora me permiti ter tempo pra me observar? Ainda não sei essa resposta.
Tem uma parte que eu acho curiosa nessa coisa toda de ficar mais velha. O clique ao se perceber ocupando uma posição diferente nas dinâmicas das relações e assim de uma hora pra outra revisitar uma memória com uma perspectiva completamente diferente da coisa toda.
BOOOM.
Não dá pra roteirizar e contar nossa história de um jeito em que somos sempre a vítima vulnerável e indefesa, assim como não dá pra defender um vilão só porque agora você meio que consegue entender os motivos dele. Aprender a perdoar não é apenas sobre dizer isso em voz alta pra alguém que não faz mais parte da sua vida, é olhar pra frente com a força de quem se admira por não ter desistido de tudo quando ficou difícil.
Teimosia é a principal característica do meu signo, e ela pesa para os dois lados, mas eu já não fico tanto tempo em ruas sem saída. Considero uma avanço da minha parte. E se tanto me conheço, sei bem quando estou indo contra a minha natureza. Reconheço que muitas vezes isso vai fazer parte da vida adulta e das responsabilidades de querer expandir minha marca no mundo, mas e se ao fazer isso eu deixar de lado algo que era completamente fundamental pra minha essência não escorrer pelo ralo?
Eu vou tomando nota de como me sinto pra não esquecer depois, mas agora eu faço isso enquanto tomo sol e pulo corda. Essa coisa do movimento me pegou porque finalmente eu entendi que meu corpo funciona melhor quando ele acompanha o ritmo da mente. E a minha mente, por incrível que pareça, tem buscado e encontrado conforto no desconforto.
Li em algum lugar e virou meu novo mantra: não é mais sobre ficar na zona de conforto, é sobre expandi-la.
Fazer coisas que antes eu não sabia me dá frio na barriga, mas pra ser honesta antes eu tenho que lembrar de respirar fundo pra não virar gastrite nervosa. Então eu tô dando ré em carro manual, terminando uma obra e já pensando na outra, juntando as escovas com um cara legal e aprendendo a dividir espaços que antes eram só meus, planejando um ano inteiro viajando pelo mundo pra escrever, tentando entregar um livro há mais de 10 anos e por último, dormir na hora certa pra acordar me sentindo um humano funcional.
Ainda bem que inventaram o café.