Há um ano esbarrei com uma ideia maluca enquanto caminhava de volta pra casa ouvindo música. Como sempre, completamente distraída nos meus próprios desvaneios. Tem algo sobre caminhar que faz as engrenagens do cérebro da gente funcionarem de um jeito diferente, num ritmo onde as coisas parecem que sempre vão dar certo. É como se ao se movimentar num espaço físico, você percebesse a importância de continuar se movimentando na vida de forma geral. Como uma pessoa que trabalha de casa e sozinha na maior parte do tempo, sair assim pelo bairro pra resolver burocracias da vida adulta se torna uma fuga das intermináveis horas na frente de uma tela tentando ter uma ideia legal.
Na época eu havia acabado de vender o meu primeiro apartamento comprado em muitas parcelas lá em 2013. Ele ficou alugado por anos até que eu decidi finalmente colocá-lo à venda e foi um processo que levou alguns meses. Minha ideia era usar esse dinheiro pra pegar um espaço menor num outro bairro da cidade e dar sequência ao meu plano de passar um ano inteiro viajando pelo mundo antes de engravidar.
A cada nova responsabilidade assumida ao longo dos vinte e poucos e com a sobrecarga emocional, mais certa eu fui ficando de que tirar esse período era necessário. O meu presente de 30 anos pra mim mesma. Fazer o meu tempo ser só meu por um tempo. Viver o que muitos viveram com quase 20, mas tendo 30. Lembra que eu falei que a vida não é linear?
Esse planejamento todo antes era um pouco abstrato, mas ali, nas ruas de Pinheiros, ele tomou forma. Porque depois de atravessar a rua e quase tropeçar num canteiro de obra, eu simplesmente decidi entrar em um empreendimento que havia acabado de ser anunciado. Uma semana antes ele não estava ali. Foi como se alguém falasse no meu ouvido: e se você entrar pra ver só de curiosidade? Provavelmente vai ser caro, mas no pior cenário ao menos você viu um decorado bonito. Eu entrei, vi o menor dos apartamentos custar umas 6x o valor que eu tinha planejado gastar, mas ainda sim continuei a conversa com a corretora sem dar a entender que não funcionaria pra mim. Nessas horas eu gosto de falar que vou ver com o meu parceiro. Felizmente essa era uma decisão completamente minha, mas ali, esse era um segredo meu.
Mesmo saindo de lá sabendo que não seria aquele, eu fiz o resto do trajeto com a certeza de que seria algum. Eu senti no meu coração que aquela era a direção.
Foi bem ali começou a minha busca semanal por apartamentos médios ou pequenos com bastante luz natural. Foram meses de busca em sites, imobiliárias, construtoras e até nas portarias dos prédios da vizinhança (vale muito a pena fazer isso aqui em São Paulo). Confesso que em um determinado momento todos pareciam o mesmo, principalmente os mais novos.
A parte difícil é que eu estava comparando com o lugar que eu vivo atualmente e adivinhem? Eu me apaguei demais ao apartamento em que vivi os últimos 5 anos. De um jeito que eu sabia que me despedir dele seria difícil e doloroso.
Foi quando visitei o duplex em um prédio que já era bem familiar pra gente e adivinha? Eu soube. Era ele. Proposta vai, proposta vem. Na minha cabeça já tinha dado certo. A proprietária (uma senhora super querida) aceitou e o negócio foi fechado. De pra lá cá foram meses de projeto, ajustes, infiltração, fornecedores e tudo que envolve reformar um apartamento dos anos 80. Apesar dos percalços, isso aconteceu enquanto eu me despedia da minha cadelinha Ella. O doença renal nos faz viver o luto de forma parcelada. Eu me dividi. O que fez o tempo passar rápido e devagar ao mesmo tempo.
Vê-la sofrer em casa sem poder fazer muita coisa transformava os problemas da obra na parte mais leve e divertida do meu dia. Aprendi a fazer soro subcutâneo em animais enquanto aprendia o que era frontão.
Em dezembro de 2024 a obra finalmente chegou ao fim e a Ella já não estava mais aqui. Seguir em frente fez-se necessário e ao partir, minha cadelinha caçula de apenas 6 anos, me fez entender que era o momento de deixar as memórias no apartamento antigo guardadas em um compartimento da minha cabeça e era hora abrir espaço pra novas aventuras, cenários e desafios.
Com os ajustes finais da marcenaria que duraram ainda algumas semanas, agora posso dizer que finalmente o estúdio tá pronto e ele conta um pouco de quem eu fui, sou e quero me tornar. Em março faremos as fotos finais de arquitetura com profissionais da área, mas aproveitando que eu tô me arriscando novamente na fotografia, decidi dar um spoiler para vocês queridos leitores do blog.
Vale lembrar que isso que acabei de contar foi compartilhado em tempo real nos episódios do Diário da Obra no Youtube ou através do perfil @EstudioBruvie. Pra você que também cresceu salvando pastinhas no Pinterest, jogando The Sims e sonhando com apartamentos que traduzem a personalidade do seu dono, esse é Estúdio Bruvie (de Bruna Vieira). Um espaço idealizado pra ser cenário de produções e minha base em São Paulo quando estivermos morando no interior.
Xícaras da Fado Ateliê
Quadro feito pela Amanda Mol da Galeria Brava
Móveis soltos da Westwing
Estante de livros by Pai Vieira
Planejados da Linear
Cortinas da Mendes
Projeto Letícia Medeiros
Luminárias e arandelas da Contato Iluminação
Administração da obra DMSL Arquitetos e Construção
Fotos tiradas com a minha câmera Fujifilm X100F