Ninguém quer confissões aqui. E nem é, sabe? E nem é importante… Só um pouco… Um pouquinho. Como se ela tomasse um copo de uísque, fumasse um Marlboro e mandasse uns três tomarem no cu. É mais ou menos isso… Isso aqui. Que não pretende ser confissão nem lembrança. Nem emocionante, nem inteligente. Nem valerá a página que será impressa.
Quantos dias perdi você olhando para mim dentro do seu corpo. Enfiando-me em ti e tu em mim para revogar a dor de sermos dois. E dois sempre tão longe. Quanto de toda essa soma delirante tornou a perda inexorável? Quero pedir desculpas por ser trovadora. Quero apagar os versos que aludiam a um Deus como meu desejo projetivo.
Quero ser mulher. Não na sublime ilusão que dura o encontro espumante.
E não quero mais o que não posso ter. Assim estamos livres para sermos um. Só isso. Comuns são os casais. Nós não somos nada. O problema é que quero muitas coisas simples. Então pareço exigente. Não posso fazer nada. Então choro, oro, te esporro com mil xingamentos. Você pode se divertir, você pode ter pena de mim.
Não queridinho, não irei me matar feito uma discípula cega de uma religião apocalíptica. Vou assumir o meu ódio, vou rir do meu ódio. Vou sobreviver ao meu ódio. Mesmo sabendo que estou razoavelmente sã e humanamente perdoada. Cuspo na cara de quem finge não me ver. E não quero mais me explicar.
Entender é trancar-se dentro da palavra. Quem não sabe, quem não sabe, quem não quer saber de nada… gruda a língua ao céu da boca, não escuta e finge que não vê. Entender é um outro nível da ignorância. Não é preciso nenhum livro para quem não precisa ler.
Vamos…Vamos logo subir essa escada que leva o amor ao último andar. Sobe pelo corpo o tremor do castelo que desmorona. Então vamos. Segura firme no corrimão. Respire fundo. Subir tão alto dá vertigem e olhar para trás deixaria-nos cegos. Os erros são medusas intransigentes. Arrancam as nossas lembranças boas e tatuam os desaforos e mágoas. Por isso marche. Sinta o meu perfume enquanto o tempo sopra esse bafo de mudança.
A quadrilha dos desafortunados só começa quando um poeta recita um adeus. No final, devo pedir perdão por tê-lo tocado. Pode partir. Lembre-se ou esqueça-se de mim. Coração quebrado tem cura. A paz de não precisar mais aguardar a perfeição que não existe. Quero somente amortecer os erros e mudar de idéia. Quem sabe o por quê do que?
O que você está falando, mulher?
Nada… Nada…
Quer saber quem escreveu esse texto?
Fernanda Maria Young de Carvalho Machado, ou só Fernanda Young, nasceu em Niterói no dia 1° de maio de 1970. Ela é escritora, atriz, roteirista e apresentadora de televisão.
Freqüentou a faculdade de Letras, Jornalismo e Rádio & Televisão, mas não terminou nenhum dos cursos e jurou nunca mais pisar em m campus universitário.
Escreveu oito livros, escreveu junto com o seu marido dez roteiros (entre eles Os Normais, Minha Nada Mole Via e O Sistema) e apresentou o comentadissímo Irritando Fernanda Young no GNT.
Os livros de Fernanda conseguiram boa exposição na mídia devido à sua persona peculiar, suas declarações controversas, sua obsessão com cultura pop e seu visual, construído por cabelos geralmente curtos, grandes tatuagens e, por algum tempo, ostensivas pulseiras de baquelite das décadas de 1920 a 1950. Contudo, não conseguiu angariar o respeito de especialistas em literatura, que a consideram um típico fenômeno televisivo sem consistência.
É casada com o roteirista e escritor Alexandre Machado, com quem teve as gêmeas Cecília Madonna e Estela May. Morando na cidade de São Paulo, divide seu tempo entre a musculação, assessorada por um personal trainer, o cooper e o balé clássico. Mantém também como hobby a fotografia, principalmente auto-retratos.
Bibliográfia