Lá está ela, mais uma vez. Olhando além da janela, em outra direção, como se estivesse procurando por alguém. A paisagem passa rápido por seus olhos, e aqueles velhos pensamentos logo se perdem entre as árvores e montanhas. Sabe que o mundo é pequeno demais para suas lembranças, então corre de si mesmo, e deixa o vento mudar o penteado, os sonhos e todo o resto. Não liga, sabe que é assim. Como se durante todos os dias de sua vida, tivesse feito e desfeito as malas por alguém.
Sei bem que essa moça, gosta dessas coisas. No fundo, ela só consegue se enxergar nos olhos de alguém. Por isso, jamais fica sozinha. Odeia ouvir seu próprio silêncio, então decora palavras e toda vez que sente medo, diz sem ter certeza: “Eu amo você”.
Por ser assim, já sofreu centenas de vezes que eu sei. Tomou na cara, no coração e na alma. Mas pra ela, isso não é nada. Sabe disfarçar com sorrisos, batons e café forte. Se levanta toda vez, e segue em frente seu caminho. Não por ser forte, mas pelo contrário, por saber que é fraca o bastante para não conseguir entender sua alma, admitir essência e voltas atrás. É disso que ela tem medo, dar ré.
Então, pisa firme, acelera e segue em frente toda vez que quer voltar. Deixa o vento agir. Acha que adrenalina é paixão, e paixão é amor. Mistura tudo em um copo cheio de nada, e bebe sem respirar. Pobre moça, conhece todos os lugares do mundo, menos seu próprio coração. Às vezes, penso até que quando era mais nova, lhe disseram que todos devem ser alguma coisa quando crescer. Então, entre todas as coisas que poderia ser, essa jovem moça escolheu ser saudade. Ser a falta, o motivo e a rima de versos como estes.
Que são escritos a todo instante por caras como eu. Caras que foram deixados para trás, que ficaram no reflexo do retrovisor, querendo sempre dizer uma última coisa: Deixa disso de uma vez menina. Vê se dessa vez, fica quieta em você. Quando é que finalmente tu vais aprender, que nesse nosso mundo, amar sem amor é besteira e faz doer?