Já passei da fase de rebelde sem causa ou daquela em que rogamos praga no mundo e ficamos tristes por qualquer coisa. A pizza esfriou? Choro. O esmalte borrou? Choro. Ele ainda não ligou? Choro. Pois é, falando assim parece mentira, mas quando estamos tristes, tudo ao redor parece não dar certo. Eu estou assim, quer dizer, estava assim. Triste por tudo e nada ao mesmo tempo. Lamentando o fato das coisas darem tão errado, de ainda não poder estar onde eu queria estar e de não desejar ninguém que esteja comigo onde eu deveria estar. Mas hoje foi diferente, hoje o mundo resolveu me dar um tapa na cara e dizer: Acorda! É só eu andar de ônibus para viajar quilômetros de distância em pensamento, e realizar todos os meus desejos, visitar todos os lugares e viver todos os amores, por isso geralmente sou alheia a tudo o que acontece a minha volta. Mas hoje, mesmo com o som do MP3 no último volume, mesmo com todas aquelas pessoas falando, eu vi um senhor correndo. Magro, muitas rugas, cabelos grisalhos. Por um momento pensei que o motorista não o esperaria e foi justamente ai, que comecei a ver com clareza. Após ter corrido alguns metros, ele entrou no ônibus cansado, mas sorrindo, pegou o RG, mostrou ao cobrador e sentou. Eu continuei observando, me perguntando quem era e o que fizera em toda sua vida. Estaria ele satisfeito com as suas conquistas? Ou será que ele guarda muitas mágoas? De repente comecei a pensar em como eu estava conduzindo a minha vida. Será que perdemos muito tempo lamentando nossas perdas ao invés de lutarmos por dias melhores? Será que lutamos tanto por dias melhores que nos esquecemos de dar valor as pequenas coisas, aos pequenos prazeres da vida? Certamente me lamentarei por der dado muita importância aquele cara que me deu um apelido ridículo quando eu estava na quinta série e que me fez chorar dias e não sair de casa durante meses, na verdade anos. Me lamentarei por ter acreditado que só amor não basta ou por ter me olhado demais no espelho quando eu poderia estar lá fora, me amando incondicionalmente. Lembrei daquela música que diz: “Devia ter complicado menos, trabalhado menos. Ter visto o sol se pôr. Devia ter me importado menos, com problemas pequenos. Ter morrido de amor…” Deveria e vou. No fim das contas a vida é um jogo, onde todos fazem apostas que podem dar certo ou não, a única certeza que tenho é de que quanto mais tempo passamos lamentando o que deu errado, mais demoraremos a voltar ao jogo. Não quero ser aquele tipo de pessoa que joga cautelosamente, com medo de errar. Aconselho que façam o mesmo, afinal, o prêmio de quem aposta baixo, é igualmente baixo.