Eu li uma matéria no youPIX sobre barriga negativa (e logo depois saiu uma sobre barriga positiva) que me fez pensar bastante sobre o corpo e a danada da pancinha. Lembrei de ser adolescente e lutar contra o peso, idas ao médico e dietas que me deixavam infelizes. Tudo por um corpo “mais bonito”.
Eu sempre estive acima do peso, mas acredito que de forma saudável. Nunca cheguei a ser obesa, ficava na faixa do sobrepeso. Minha família me estimulava da melhor maneira possível a perder peso (com exceção das sutis palavras do meu pai, como vocês acompanharam no meu Draw My Life). Sempre que eu ia pra casa da minha avó, ela tentava fazer menos doces, ou pelo menos usar adoçante nas coisas. Aliás,só fui me permitir comer açúcar de verdade há pouquíssimo tempo. Antes, sempre que existia a opção, era o light. Chá gelado LIGHT, refri LIGHT, biscoito LIGHT, pão LIGHT, tudo o que pudesse me ajudar a emagrecer.
Mas eu notava que mesmo comendo com qualidade e moderação, não conseguia emagrecer. E fui percebendo que talvez meu fracasso pra emagrecer estivesse relacionado a eu mesma não acreditar que estava feia daquele jeito. É claro que se por um milagre que ficasse uns 5kg mais magra, não reclamaria! Mas eu mesma gostava de mim e das minhas gordurinhas. Quanto mais velha eu fui ficando, mais eu comecei a gostar de ser diferente. Pintando o cabelo de rosa e tendo uma bunda maior do que a de todas as garotas que eu conhecia era um jeito legal de ser assim. Não foi fácil, mas tenho muito orgulho de ter resistido às tentativas de padronização de todos.
Em 2011 eu realmente senti que precisava perder um pouco de peso porque via meu rosto nos vídeos e achava que tinha coisa sobrando ali. Sempre tive a sorte de ser a tal da “falsa magra”: rosto e braços magros, gordura na barriga e no bumbum. Logo, se eu estava vendo meu ganho de peso nos vídeos, tinha algo de errado. Me esforcei mais do que nunca e consegui perder 6kg em 6 meses, seguindo uma dieta da nutricionista. E sim, eu bati o pé pra não parar de comer chocolate depois do almoço (só tive que diminuir a quantidade pela metade). Não fiquei infeliz durante a dieta, porque ela respeitava o que eu gostava de comer e meus horários. Junto com a dieta, fazia aula de dança 5 vezes por semana. Esvaziei minha conta bancária pagando esse montão de aulas e ainda teve apresentação no final do ano com mil figurinos, mas consegui meu objetivo.
Mas veja bem, meu objetivo era passar de 76kg para 70kg (tenho 1,71m de altura, caso vocês perguntem). Meu modelo de corpo nunca foi tirado de uma revista. Eu só queria que meu rosto voltasse ao normal e, esperançosamente, sair do 46 e voltar pro 44 no jeans (e também porque estava se tornando cada vez mais difícil encontrar calças. Se elas estivessem disponíveis, talvez isso nem fosse um problema pra mim). Eu dançava ballet, ao lado de várias colegas magérrimas. Ia comprar meia-calça e collant e sempre me frustrava com os tamanhos: o que era tamanho único ficava super apertado e os Gs pareciam Ms. No começo, foi a força de vontade de me ajudou a continuar. Depois, foram os resultados. Agora, o amor pela dança é maior do que qualquer dieta ou qualquer obstáculo: danço porque amo e desencanei de ser a aluna mais gorda da sala.
Eu estava tão acostumada com os padrões de Curitiba que uma vez fui numa feira de artesanato lá em São Paulo e já ia passando reto por uma barraquinha cheia de vestidos lindos. Meu namorado me parou e perguntou se eu não queria experimentar. Falei automaticamente: “nenhum deles vai servir em mim, são sempre muito pequenos”. Ele insistiu, eu entrei, experimentei o G e tive que pedir um M! Foi então que a vendedora, uma moça simpática e um tanto quanto gordinha me falou: “aqui a gente faz tamanho de brasileira, com bundão mesmo!” — Me apaixonei na hora.
Ela descobriu exatamente onde estava minha neura: eu estava me comparando a uma população praticamente inteira de descendente de europeus, com formas menores e menos curvilíneas. Eu também sou de família alemã, mas com uma misturinha que me fez ser brasileira. E depois disso, os sinais ficavam claros pra mim: tudo depende do contexto. Indo pro Rio de Janeiro direto, descobri que lá não estou nem perto de ser gorda! Como pode mudar tanto assim? Assim como eu sou gorda em Curitiba e ~gostosa~ no Rio, as meninas que são “magras demais” lá, seriam as maiores gatas aqui no sul!
Ok ok, mas o que isso tudo tem a ver com barriga positiva e barriga negativa? Isso tudo é um padrão que a gente vê fora do nosso contexto e sem pensar no nosso próprio corpo. Geneticamente, o corpo de mulheres caucasianas é muito menor do que de quem tem alguma mistura negra. E quem são os nossos modelos de beleza? Giselle Bünchen, Kate Moss e outras mil modelos que são magras (e, desculpem a expressão, mas frequentemente são magras de ruim! Daqueles que come tudo e não engorda). Aí você pega seu corpinho estilo Béyonce e quer mutilar e mudar tudo nele: metabolismo, gordura, formas, tudo pra ficar embalada a vácuo como as mulheres da revista. E o pior: você quer ter um corpo de modelo, sem ser modelo. O que você acha que vai acontecer se você conseguir esse objetivo? Vai ser chamada pra ser modelo? Dificilmente.
Pense o mesmo pra quem é magra de ruim: a garota vai tentar a vida inteira ser ~barriga positiva~, vai comer brigadeiro e fast-food todo dia e não vai engordar. Ela também está infeliz, porque o corpo dela não é como ela quer. Você vai dizer que ela está errada? Que ela precisa se amar magra, porque isso é que é bonito?
Então eu te digo: você tem que se amar gordinha. Seja saudável, esteja num peso legal, sem doenças relacionadas, fazendo atividade física. Mas ame seu corpo como ele é! Tire o estigma da palavra “gorda” e seja feliz. Use um bikini e sente na areia sem aquela preocupação com sua pancinha. A pancinha é linda, gente! Mostra que você tem preocupações mais nobres do que emagrecer a qualquer custo: estudar, fazer uma carreira, construir uma família equilibrada e feliz.
As magras sempre tiveram a sorte de serem as queridinhas dos estilistas nas passarelas, então está na hora de nós sermos as queridinhas de nós mesmas. Tire da cabeça seus padrões photoshopados e pense no SEU corpo. Convido você agora a olhar pra sua pancinha e amá-la macia e deslumbrante como ela é. O mundo não é perfeito, tem gente magra querendo engordar e gente gorda querendo emagrecer. Só que se a gente conseguir ver beleza no que é considerado “imperfeição”, acredito que estaremos cada vez mais perto da felicidade.