Quando eu era mais nova tudo o que eu queria era ter muitos amigos. Ser uma daquelas pessoas que nunca fica sozinha no intervalo ou por último na divisão de grupo da educação física. O problema é que eu nunca tive vocação pra ser popular. O tempo passou, algumas coisas mudaram, então, quando pensei em escrever sobre como fazer novas amizades, assunto que vocês sempre me pedem nas redes sociais, me perguntei se eu era realmente a melhor pessoa pra falar sobre. Conclui que seria ao menos divertido tentar.
Durante por parte da minha infância tive duas grandes amigas. Nós nos conhecemos no maternal, quando minha mãe tentou me colocar na escolinha do bairro pela primeira vez. Na época eu não estava acostumada a conviver com estranhos, então chorei tanto que minha família decidiu que era melhor esperar mais um ano para que eu frequentasse de fato a escola. Não tenho lembranças desse dia, mas essas amigas me contaram depois que eu cheguei na sala com um laço azul gigante no cabelo e eles disseram que era ridículo. Me mandaram tirar na mesma hora. Não sei se foi por isso que eu chorei e não quis voltar ali até o próximo ano, o fato é que a minha primeira experiência com amizades não foi das melhores. Ainda bem que minha família é grande e tenho uns 500 primos.
No primeiro período eu voltei, um pouquinho mais madura, e me adaptei melhor. Nossa turma era formada por 5 alunos e eu era a mais tímida do grupo. Não sei se timidez tem mais a ver com personalidade ou criação (minha mãe é muito tímida), mas lembro de algumas situações que aconteceram nos anos seguintes que vou compartilhar com vocês.
1. Num belo dia dia sol o lanche da tarde da escolinha tinha suco de maracujá e eu sempre odiei suco de maracujá. Minha timidez era tão ridícula que eu não tive coragem de dizer isso pra professora. Tomei o copo de suco com o olho lacrimejando mesmo. Depois todo mundo tomou banho de mangueira/borracha, o que era divertido, mas lembro de voltar pra casa muito chateada por ter feito algo que eu não queria fazer.
2. Quando as meninas pegaram meu caderno e rabiscaram todas as páginas. No dia seguinte a professora fez com que elas copiassem tudinho e pedissem desculpas.
3. Quando eu fiquei com vergonha de pedir pra ir ao banheiro e não aguentei segurar até o sinal. Era o horário depois do intervalo e existia uma regra bem clara: nada de banheiro depois do intervalo. Normalmente o professor só não deixava os alunos bagunceiros, que queriam passear, mas era aula de informática e eu já adorava ficar no computador, prestava atenção e fazia tudo direitinho, então ele certamente teria me deixado ir ao banheiro sem problemas. Todo mundo riu, mas o professor disfarçou dizendo que meu refrigerante havia derramado no chão.
4. Quando as meninas combinaram de pedir a mesma coisa de Natal e prometeram não me contar (era patins) ou quando elas combinaram de por um tempo não me dizer o nome do garoto que elas gostavam. Elas sabiam o meu, mas faziam mistério e eu ficava muito chateada por não saber os segredos delas também.
5. Quando eu combinei de perder o BV na mesma hora que uma dessas amigas e no grande dia, no extinto cinema de Leopoldina, o garoto que eu gostava não foi. Por “sorte” um amigo do garoto que ela iria ficar estava lá e eles me convenceram a beijá-lo. Foi horrível! Cada beijo foi um sacrifício! Voltei pra casa em silêncio e chorei escondido no banheiro um tempão. Beijei porque achava que era o certo, não queria deixar de fazer parte daquele grupinho do Clube, mas foi péssimo porque eu não sentia nada pelo garoto e fiquei com nojo da barba fina dele. Por um bom tempo o maior problema da minha vida era não gostar de beijar na boca.
Todo mundo tem essas lembranças de infância e sempre que eu penso nas minhas, concluo que até o ensino médio nunca fui uma pessoa tão sociável e cheia de amigos. Nos dias mais solitárias até sofria por isso. Eu posso colocar a culpa nas amizades que tive, mas acho que essa não é a questão. Nunca fiz terapia pra entender, mas acho que eu levava tão a sério meus complexos que isso me limitava muito. Era mais fácil ser tímida e lidar com as pessoas que me conheciam do que fazer novas amizades.
Pelo menos era o que eu pensava até mudar de escola no ensino médio e dar restart na minha vida social. Nessa época as redes sociais ficaram mais populares no interior e eu criei esse blog, então eu diria que esse conjunto de coisas me ajudou bastante. Fiz novos amigos no ambiente online e muitos deles passaram pro offline também. Conheci gente que gostava das mesmas coisas que eu. Simplesmente larguei mão de quem não fazia questão de mim. No começo foi difícil, porque eu acabei me afastando das pessoas que mais me conheciam, mas esse espaço vazio me fez querer mudar e essa mudança me trouxe um universo novo cheio de coisas boas. Talvez esse seja o caminho para fazer amigos de verdade. Abrir mão de certas coisas e dar chance pro desconhecido sem tanta expectativa. Ser surpreendida.
Isso vai transformar sua vida de um dia pro outro? Não. Você provavelmente vai se ferrar muito até tirar suas próprias conclusões e descobrir quem realmente tá do seu lado. Quero dizer, as pessoas cometem erros o tempo todo, algumas delas vão te decepcionar, mas o processo nos ensina muito. Tanto que depois de uma certa idade nós vamos nos dando conta de que quantidade não quer dizer absolutamente nada. A questão não é ser popular e estar sempre rodeada de pessoas, é valorizar as pessoas certas.
Apesar de hoje ser relativamente bem resolvida nesse aspecto e até ter uma certa facilidade em conhecer/conversar/me entender com outras pessoas, continuo tendo poucos amigos e nenhum talento pra ser popular. Pelo menos não na minha vida pessoal. Não gosto de bajular e trazer pra perto quem não tem os mesmos valores e princípios que eu. Sou “na minha” e pra colar junto, a pessoa tem que me dar espaço e demonstrar ser de confiança. É muito importante valorizar a própria companhia. Esse, ao menos pra mim, é o grande segredo!