você está lendo Não repartimos – partimos
dividr

Foto: Brandon Woelfel

Não, você entendeu tudo errado.

Quando eu disse que era para a gente dividir, não estava falando sobre o guaraná de garrafa ou sobre aquele lanche enorme que a gente sempre pedia na nossa lanchonete favorita. Também não tinha a ver com repartir o bombom, rachar a conta, alugar um apê ou deixar nossas escovas de dente lado a lado, no mesmo copo, ali em cima da pia.

Era muito mais simples do que isso. Não precisava de dinheiro, dias marcados, listas de espera e tampouco combinações prévias. Era só para a gente dividir sentimentos.

Tão fácil, não é? Era para a empatia nos conduzir o tempo inteiro, para a leveza nos guiar e deixar as emoções fluírem daí para cá (e vice-versa). Era para acolhermos um ao outro em nossos próprios corações, fazendo com que o amor fosse sentido por ambas as partes.

A gente dividia momentos e, para mim, eles tinham um valor enorme. Eu amava a sua companhia e, por menor que fosse o nosso passeio, ele parecia ideal ao seu lado.

Por isso que eu pensava o tempo todo: a gente tinha que dividir a vontade de ficar perto, compartilhar o prazer que é estar com quem se ama. Era para ser assim. Mas não foi.

O que aconteceu é que ninguém me avisou que não te ensinaram a dividir… e você mal quis tentar aprender. Eu não conseguiria instruir alguém que não começa uma trajetória por vontade própria – já era causa perdida. E, por isso, desisti. 

Nos afastamos. No final, não dividimos – partimos. Você não era bom para partilhar, mas, desde o começo, já havia me provado que sabia muito bem fazer algo parecido: fragmentar-se e ir embora.