Eu estava à toa, na rodoviária, esperando o meu ônibus – que demoraria mais de uma hora e meia para sair. Tinha tempo de sobra para tirar um pequeno cochilo, ouvir música ou fazer os minutos voarem no feed do celular, enquanto a bateria e o plano de dados se esgotariam pouco a pouco.
Mas eu só guardei as minhas coisas e me sentei de frente para o corredor mais movimentado. E foram muitas as pessoas que passaram.
Tentei imaginar para onde cada uma estava indo, o que elas estariam fazendo, em que estariam pensando. Tantas possibilidades! Sem conhecer nenhuma, a única pista que me dava indicações sobre uma possível situação eram suas roupas. Deve ser por isso que falam que a moda diz tanto. Ela realmente pode representar muito.
Só que, seguindo esta linha de raciocínio, também foi inevitável não analisar o preconceito que isso traz: quantos juízos errados as pessoas fazem por aí só por conta das roupas de cada um? Dois lados de uma mesma moeda.
E, então, voltei à estaca zero. Mesmo que aquele grupo aparentasse ser de mochileiros na expectativa de uma próxima aventura, aquela garota parecesse uma trabalhadora já cansada no final de seu expediente e, aquele senhor, um turista que voltava para casa após uma visita breve à sua filha, quem iria saber?
Dava para embaralhar todas essas possíveis vidas e descobrir que nada daquilo era o que eu imaginava. A garota podia estar visitando alguém rapidamente, com a pressa de voltar, e o senhor poderia – por que não? – ser o tal mochileiro corajoso.
E era bonito, quase mágico, pensar em tudo que eu desconhecia por trás daqueles rostos que nunca havia visto e que talvez jamais voltaria a ver. Você deve estar se perguntando: mágico? Por quê?
É que são nestes momentos que a gente percebe o quanto somos vários e diferentes e como podemos ser poderosos. Vai saber se uma dessas pessoas tem algo bem importante a ser feito lá na frente, outra acabou de ensinar a muitas algo valioso, ou aquela é a turma que qualquer dia vai revolucionar este planeta?
Procuro ser otimista. Cabem infinitos mundos no mundo particular de cada um de nós. E eu espero e torço para que, neste universo de alternativas, a maioria delas seja favorável, justa e amável para todos nós.