– Você estava pensando nele de novo, não é?
– Como você sabe?
– Eu te conheço bem, amiga. Sei que, quando fica com esse olhar perdidinho, sua cabeça pega o caminho da casa dele e só estaciona quando chega lá. Não é a primeira vez que isso acontece…
Ela suspirou. Era verdade e as duas sabiam disso. Ela não queria arrastar os pensamentos para ele mais uma vez, mas inevitavelmente isso voltava a acontecer. Sua melhor amiga já conhecia a cara de paisagem que ela fazia e o silêncio repentino que enchia o ambiente – antes repleto de outros assuntos.
– Sabe, eu só acho que…
– Não me leve a mal, mas já sei o que você vai falar. Que eu tenho que parar de pensar nele, que o meu nome não deve ser dito pela boca dele há semanas, que é perda de tempo. Eu sei disso.
– Acho que você gasta muito tempo com quem simplesmente não deveria mais importar nadinha para você!
– Eu sei! Juro! Você acha que eu não queria pensar em outras coisas mais produtivas? Mas não é sempre que consigo. De vez em quando, parece que ele surge numa janelinha aleatória, dá um “oi” imaginário aqui nos meus pensamentos e fica. Como se estivesse grudado com cola permanente. É difícil de fazer ir embora.
– Mas você já tentou ignorá-lo? Fechar essa janela, continuar com o que estava fazendo – como quem vê um animal estranho entrando em casa, o coloca para fora com a vassoura e continua com a vida normalmente?
– Já… Se fosse fácil, como expulsar um grilo intruso e barulhento, eu já teria me livrado disso. Mas não dá. É que não é só o pensamento: toda vez que ele aparece na minha mente, tudo volta. Todo o sentimento.
Elas ficaram quietas por alguns instantes. A outra não tinha muito o que dizer: ela não conhecia um método eficaz que pudesse ajudar a amiga a tirar um velho amor da cabeça (que insistia em sintonizar sempre no mesmo canal).
– Eu sei que o sentimento continua sendo grande. Mas me diz uma coisa: você acha que ainda pode chamar isso de amor?
– Com certeza. Se fosse amizade, eu estaria pensando em você, não nele! (risos)
– Eu sei que não é amizade! Perguntei em outro sentido. Às vezes, acho que o que acontece com você é tipo quando a gente quer muito uma coisa e não a tem. Vira meio que uma obsessão, não conseguimos ver outras possibilidades. Será que o tal do amor não evoluiu para algo assim?
– Será? Isso tem algum tipo de nome?
– Não sei, mas qual diferença este “nome” faria?
– Ah, se desse para procurar no Google “como parar de blablatizar a pessoa amada”, as coisas poderiam ser mais fáceis. Não sei! Eu poderia pelo menos entender o que está acontecendo comigo.
– Ué, se essa ideia te faz bem, crie uma “explicação”, oras! Pode até ser o tal “blablatizar”, não importa. Esqueça o “amor”, essa palavra está te dominando e não representa o sentimento lindo que o amor de fato costuma ser. Isso é passageiro. Finge que eu acabei de escrever um artigo na Wikipédia sobre o assunto e várias pessoas conseguiram passar por cima da situação depois que leram as recomendações!
– (risos) Você não existe!
As duas se abraçam.
– Amiga.
– Oi.
– Você sabe que essa sou só eu tentando criar soluções para te ajudar. Mas, bem… Se você tentar ser racional, acho que vai ficar mais fácil, né? Eu sei que é bobo, mas estou pensando aqui e acho que faz sentido.
– Não é fácil mesmo, mas ajuda, sim.
– Então! E em nome do amor, mas do amor de verdade, não dessa idealização que fica rodando na sua cabeça, você vai tentar parar com isso de “blablatizar”. Ok? Afinal, até essa palavra é ridícula.
– Sim! (risos)
– Não dá para romantizar um negócio desses. Quanto mais ficar revivendo este sentimento.
– É verdade… Não há beleza alguma em passar por isso – e essa percepção me dá forças para, finalmente, parar de pensar. Daqui pra frente é assim que tentarei levar as coisas. Uma hora ou outra vai funcionar. Eu acredito. E vou começar agora.