Coloquei as minhas botas, me levantei do sofá e entrei no carro. Fechei a porta, me sentei e coloquei o cinto de segurança. Lá fora perguntaram alguma coisa, mas não consegui ouvir muito bem. Desci o vidro para escutar melhor, antes mesmo de dar partida, e entendi um “para onde você vai?”.
Foi aí que percebi – nem eu sabia a resposta para essa pergunta tão simples.
Mas uma coisa era importante: eu estava pronta para ir.
Antes, confesso que havia me dado uma certa preguiça. Queria continuar como estava. Era cômodo. É fácil seguir fazendo o que você sempre faz, porque você só precisa empurrar as coisas, se colocar em meio aos lugares e fazer o que todo mundo já sabe que pode esperar de você. Nada além.
Não é complicado porque você já entende como a rotina funciona e também tem ciência dos resultados que virão. De vez em quando, o bichinho da novidade tenta te picar, esperando uma ação diferente sua, mas você apenas o afasta e tudo continua, de fato, o mesmo.
Foi em um desses momentos repentinos que senti uma vontade maior de abraçar essa possibilidade. E a agarrei com toda a minha força, antes mesmo de pensar em largá-la novamente e desviar a minha atenção para outra coisa qualquer.
Levantei e a vi de perto, mesmo ela sendo tão simples quanto um pensamento novo. Eu, de repente, estava ali, olhando para o espelho e vendo a imagem daquela velha versão de mim, enquanto lá no fundo dos meus olhos existia a faísca que havia passado há pouco, lembrando da eminência de um futuro inédito.
Junto a ela vinha toda aquela carga de sentimentos que, ai, ai… E então mais uma vez eu entendi porque o cômodo era tão bom: ele não envolvia medo, ansiedade, o desconhecido ou a vergonha. Aquele medo de colocar a cara para fora, sabe? A ansiedade pelo desconhecido, que podia trazer tanto, e um pouco de vergonha por ter que, finalmente, tomar alguma iniciativa – com receio de falhar e todo mundo me olhar. Afinal, era a respeito dessa situação que a minha estagnação se tratava e agora eu conseguia ver isso bem.
Era displicência com a minha própria obstinação. O quão covarde eu estava sendo? Nunca havia me encarado como alguém que merecesse ouvir essa palavra tão estranha e agora estava repetindo-a para mim mesma, sabendo que havia nome para tudo aquilo que eu adiava até então.
E foi quando descobri o motivo de tudo permanecer igual para mim. Dessa vez, não faria questão de saber se a vida continuaria como sempre, se daria certo, se eu cairia na tentativa ou permaneceria em pé. Eu só tive vontade de ir – uma vontade muito maior do que todas as outras coisas que me prendiam.
Por isso que, quando entrei no carro, por mais que não soubesse qual caminho tomaria, do mais importante eu já tinha conhecimento: era a minha hora. Eu seguiria em frente. E só essa certeza já me enchia de uma confiança que dizia, decidida, que tudo daria certo.