Ela se preparou para aquele dia.
Não sabia direito qual roupa colocar e acabou optando pelo vestido de sempre. Era impressionante como ela invariavelmente dava preferência às peças mais usadas de seu guarda-roupa e, mesmo que a vontade fosse de experimentar algo novo, no último segundo ela tirava do cabide aquela peça da sorte, mesmo que já estivesse um pouquinho castigada pelo uso frequente.
E ela era um pouco assim em todas as áreas de sua vida. Tinha medo de inovar, pois sabia que o usual estava ali, seguro e praticamente pronto para dar certo mais uma vez. Foi por isso que, quando aquele convite inusitado surgiu, seu coração bateu mais forte e a vontade de negar quase venceu.
Mas desta vez, não. Seria diferente.
Quando disse “sim”, o frio na barriga se instalou e, sem pensar duas vezes, ela o varreu para fora de seu corpo. Convence-se de que era o necessário. Ela precisava da novidade em sua vida. Precisava tentar mais uma vez.
Quando se encontraram na hora marcada, nem ela mesma podia imaginar o desenrolar daquilo tudo – rápido como uma motocicleta de primeira categoria. Depois do “oi”, uma conversa tímida deu lugar a um assunto entusiasmado e um olhar desencontrado virou uma fixação, daquelas que não são interrompidas nem se o mundo está acabando. Um coração desesperançoso se preencheu rapidinho, notando naquela alma uma novidade que, ao mesmo tempo, também tinha gosto de coisa antiga: pareciam se conhecer há muito.
E o melhor de tudo? É que ele sentiu exatamente a mesma coisa.