você está lendo Diário do intercâmbio: A verdade sobre ir morar longe

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Estar tão longe de casa faz com que você se enxergue de um jeito diferente. Você vai substituindo aos pouquinhos e sem perceber algumas de suas maiores certezas por novas possibilidades ainda mais desafiadoras. Num dia você tem medo, no outro sente o estômago revirar de tanta felicidade por estar ali. Tudo aqui fora vem em dobro. A tristeza que te faz querer desaparecer ou voltar no tempo e a alegria de poder estar exatamente onde você está nesse exato momento. Uma hora ou outra a saudade diária de tudo que você mais ama te obriga a descobrir o que tem depois da esquina daquela rua que você nunca foi. Vá e se encontre lá.

No fundo acho que mesmo acompanhados estamos sempre meio sozinhos. Isso nunca foi tão verdade pra mim como agora. Independente de como sua experiência estiver sendo, te garanto que a solidão será sua companhia por um tempo durante o intercâmbio. É você contra o mundo. E isso pode te assustar porque nem sempre estamos acostumados a responder nossas próprias perguntas. Como você veio parar aqui? O que você vai fazer quando tudo isso terminar? Não tenha medo de se abrir. Por Skype ou usando o google tradutor, uma hora nossos sentimentos transbordam e até o conselho mais besta do mundo com o verbo conjugado no tempo errado é melhor do que guardar tudo dentro do peito outra vez.

Sim, eu também abri mão de algumas coisas pra estar aqui, mas eu precisava desse espaço para me reinventar. Se não fosse agora, então quando seria? O momento certo é quando você se sentir pronta para fazer dar certo. Não deixe que suas raízes te prendam no mesmo lugar pra sempre. Certifique-se de que elas cresceram e se tornaram fortes o suficiente para que você possa ir com o vento, florecer com o tempo. Todas as coisas que não couberem na mala não vão fazer tanta falta assim. Por incrível que pareça, a saudade que mais dói é da rotina, dessa que por tanto tempo te prendeu, mas isso a gente conversa depois.

Sou um fracasso na cozinha. Sinto falta da comida da minha mãe e do restaurante saudável da esquina da minha rua em SP todo santo dia. No começo, por um tempo, comer era um ritual doloroso. Até perdi peso por isso. Ter que me preocupar com o tipo de comida me deixava nostálgica e ansiosa. Eu só queria o arroz, feijão e alguma carne gostosinha feita na panela com muito alho e cebola. Aquela misturinha que a gente faz diariamente no Brasil. Aqui não é assim. Almoço é salada fria, é lanche embrulhado no papel, é carne com batata e só, é sushi 6 dólares a dupla, é italiano que eu nem sei a diferença dos tipos de macarrão. Eu não tô reclamando. Tenho grana pra comer e isso é um privilégio, eu sei. Mas eu queria conseguir me acostumar mais rápido com o jeito que as pessoas se alimentam aqui. Já falei e vou repetir: isso é culpa da dona Luzia, minha mãe, que só me deixava sair pra brincar depois de almoçar di-rei-ti-nho.

Queria muito que todo mundo tivesse essa oportunidade também. Dar um tempo e ver a vida de uma outra perspectiva. Eu tenho descoberto tanta coisa sobre mim. É assustador e encantador ao mesmo tempo. Sou mais sensível do que eu imaginava, mais leve do que eu achei que conseguiria ser, mais curiosa do que nunca. E assim a vida segue, até que quando sem se dar conta, você estará cantando todas as palavras daquela música da sua vida. Aquela que você sempre cantarolou, mas nunca entendeu o significado. Agora você entende. E percebe que precisa de muitas outras músicas pra definir quem é você nessa vida.

PS: para saber mais sobre o meu intercâmbio em SF clique aqui! :)