Há pouco tempo, eu tinha uma teoria que, para mim, era muito fácil de ser entendida e praticada: se as coisas estavam feias lá fora, a solução era simplesmente não sair. Pronto. Evitar a situação, ficar dentro de casa e esperar, com paciência, que aquilo passasse.
É claro que não era fácil: a paciência é uma arte que requer prática, muita respiração e uma boa dose de aceitação: os problemas podem, sim, fugir de nosso controle. É preciso arranjar distrações para afagar a alma que tanto quer abrir a porta e dar seus primeiros pulos para fora, não importa como esteja o cenário.
Só que, bem… A gente se contradiz de vez em quando, né? Às vezes mais frequentemente do que imaginamos. Eu não estava muito certa desta teoria por três motivos que, agora, me são muito claros.
O primeiro é que nem todo mundo pode ficar ali dentro, esperando. Muitos possuem questões mais fortes para lidar lá fora e, mesmo que não seja de nossa vontade, tudo dependerá dos passos que forem dados. E então coloca-se a touca e o casaco e enfrenta-se o necessário. Não existe outro jeito.
O segundo é que vez ou outra a grande lição não viria de dentro do conforto do lar e da compreensão obtida vendo a situação de fora, sentadinha no banco ao lado da mesa de jantar. Em alguns casos, a gente tem que rasgar a cortina e romper pela janela: sair em disparada e ver no que dá – comprando as consequências e aprendendo com elas. Lá mora a resposta. Não aqui.
Já o terceiro é que, bom, isso pode voltar a acontecer de novo. E de novo. E mais uma vez e várias delas. Quantos dias perdemos por ver a vida passar lá fora, através de uma janelinha? Mesmo estando ela meio complicada, com a visibilidade difícil, o tempo frio e as pessoas gripadas e cansadas.
Talvez você seja mais uma na multidão. Pode acontecer. Mas entenda que é natural passar por estes momentos.
No dia seguinte, quando o céu ficar azul e as nuvens estiverem espalhadas feito chumacinhos do mais fino algodão, você apenas entenderá. E sairá novamente, só que, agora, com o ânimo nas alturas e agradecendo por aquele dia. Pelo próximo também. E se sentindo feliz, olha que coisa, até pelo tal dia anterior, que ofereceu aquela tarde cinza de nevoeiro. Não tem problema: ela já foi enfrentada.
Ainda bem que você fez isso.