Sala de espera do dentista. Folheio algumas revistas e percebo que são bem antigas. Falam da penúltima novela das nove, dão manchete para aquele casamento badalado que agitou as redes sociais em julho e tem uma coluna com aquela tendência de moda que demorou para chegar aqui no interior. Coisa de cidade pequena, né? Agora até a moça que espera ao meu lado está usando uma peça destas. Caiu bem nela. Estou falando das chokers.
Penso nelas e em como foi rápida sua ascensão. Lembro que, quando comecei a usar, disseram que era anos 90 demais, meio coisa de criança. Nem liguei: estava louca para parecer uma integrante das Spice Girls! Aos poucos, elas foram ganhando as ruas, e então finalmente consegui comprar os modelos que via lá no Tumblr: com pingente de coração, três voltas, toda feita de veludo, em cores diferentes e até cheia de pedrinhas brilhantes.
Mas devo ser sincera e admitir que não soube esperar. Antes de invadirem lojas – até o preço cair para menos de cinco reais -, eu quis tanto ter a minha que decidi fazer uma. Procurei um tutorial (gringo, porque os brasileiros ainda não existiam) que ensinava a confecção com linha de pesca. Arranjei a tal linha numa gaveta lá do sítio, passei esmalte preto (eu gostava daquele esmalte!) e trancei de ponta a ponta, assim como ensinava o vídeo que vi. Demorou, ainda mais para mim, que nunca consegui fazer uma trança bem feita no cabelo de ninguém. Mas deu certo: comecei o dia com ideias e terminei a noite com uma choker. Wow!
Sempre fui um pouco assim. “Você não sabe esperar?” é uma frase dita com frequência pela minha mãe – pode perguntar a ela. E eu sei esperar, sim, mas prefiro seguir indo mesmo, viu?
Para mim, o contrário de esperar não é desistir. O antônimo é começar. Libertar a vontade momentânea que pega do primeiro fio de cabelo até o dedinho do pé e deixá-la tomar conta.
Não é como se eu fosse uma criança mimada que nunca cresceu: também sei dar tempo ao tempo. Já ouvi muitos “nãos” na vida e não foi a falta deles que me causou esse sentimento de urgência. Mas, às vezes, em alguns momentos, parece que o tempo congelou e eu estou ali, dentro do refrigerador, esperando pintar verão para alguém tirar o refrigerante geladinho. E se ainda for inverno? Ah, cara, vai demorar muito. Sou do tipo que arregaça as mangas. Vamos? Vamos.
Se o caminho está fechado, mas, ao lado, há uma estrada velha, bora enfrentá-la! Eu não gosto de desperdiçar tempo. Não gosto de pensar que vou perder horas parada. É, o problema é justamente esse: a paralisação me amedronta.
Não sei se é coisa da minha geração, consequência das redes sociais, movimento de pessoas ansiosas ou qualquer outra razão. Talvez seja. Mas confesso que sou exatamente assim – e até gosto de ser. Este imediatismo me traz frescor. Os primeiros passos são mais empolgantes e cheios de novidades e desbravar novas trilhas me parece como uma caixinha de surpresas que está sendo aberta, ali, por mim, pela primeira vez. Não é impaciência: posso até fazer tudo com calma, mas quero, pelo menos, estar fazendo. Há felicidade na minha prontidão.
E, ah, vale lembrar que nem sempre tudo sai perfeito. Voltando às chokers, toda vez que eu usava a gargantilha que fiz, ela deixava marcas de esmalte no meu pescoço, como tatuagens de henna. Efeitos colaterais da pressa, e jamais poderei desconsiderá-los. Afinal, eles sempre existirão.
Curioso pensar que tudo isso começou justo numa sala de espera, não é mesmo? A vida não espera nadinha para aproveitar as oportunidades de se mostrar engraçada!