Ela não tinha nenhuma dúvida a respeito dos sentimentos dos quais nutria.
Toda as definições de amor que lera, vira ou encontrara em seu caminho até então batiam perfeitamente com o que emanava de seu peito. Sentia como se, dentro dela, houvesse um bosque mágico que sempre existira, mas que exibia um arco-íris recente, causado por aquela presença especial.
Quando ele chegou, coloriu seu coração com sete cores.
Sorrisos não faltavam. A felicidade era constante numa relação que só agregava, deixando a vida mais bonita de viver. Ao lado daquela companhia, cada detalhe tinha mais gosto e sabor. Tempero de amor, diziam. Ela provara e não queria saber de continuar sem.
Só que ela era nova.
Sim, teve a sorte de trombar com sua alma gêmea um tantinho cedo e, por isso mesmo, não perderam tempo. E então, quando diziam “ah, você ainda tem muito a viver!”, ela apenas respondia que já estava vivendo, mesmo que fosse acompanhada. Seus sentimentos eram verdadeiros. Sua relação era palpável. O amor era real.
Os dias, então, foram passando, e o céu começou a ficar cinza, como quem anuncia que uma grande chuva virá. As coisas entre eles não estremeceram, longe disso, mas foram surgindo alguns questionamentos – que ela jamais teve antes. Nenhum deles colocava em cheque aquilo que tinham, que era realmente autêntico – mas falavam de tudo o que ela não tinha.
Porque ela ainda não havia partido para uma aventura sozinha, para se encontrar em outras coisas, outros motivos, outros seres. Ela não havia passado por nenhuma adversidade desacompanhada para decidir qual fio cortar, o vermelho ou o azul, ou desbravado o mundo sem olhar para a tela do celular certa de que haveria alguma mensagem a responder.
E essa solidão, jamais vivida, começara a fazer falta.
Agora, então, ela tinha passado a entender porque falavam tanto sobre iniciar um relacionamento “muito cedo”. Antes da pessoa encontrar um outro coração, ela teria que explorar ao máximo todos os caminhos que somente o seu traria.
Não foi fácil, tampouco simples, desfazer-se de um elo tão intenso.
Mas ela foi honesta com ele e consigo mesma, abrindo-se por completo e dizendo que, afinal, não estava desfragmentando nada: estava apenas recolhendo cada pedacinho seu e sendo justa, permitindo-se aproveitá-los ao máximo com a melhor pessoa de seu mundo: ela.
Afinal, não se tratava de um desencontro. Era o encontro dela consigo mesma.