Ah, as redes sociais… Moro aqui na internet desde o Myspace. Vivi as uniões do Flogão, os perfis fakes no Orkut, as frases anônimas no Twitter, a época que o Facebook mandava 10 mil leitores ao mesmo tempo para um novo post (sdds!), o boom do Snapchat, os desafios com Amoeba do Youtube e todas as outras redes sociais que você usa ou provavelmente já ouviu falar. Aqui construí minha carreira e também aqui moldei minha personalidade. Foi graças a internet que eu conheci o amor da minha vida e também boa parte dos meus melhores amigos.
Como então ela pode ser tão boa para alguns e tão tóxica para os outros? Não sei, mas queria falar sobre.
Quem você segue ou deixa de seguir no mundo online é uma escolha sua. Só sua. Diferente da vida real, em que por educação/obrigação às vezes precisamos conviver e interagir com determinadas pessoas, aqui você constrói o seu universo e essa é justamente a minha parte favorita. Embora eu ainda acredite que é importante conviver com as diferenças no mundo lá fora, estourar a bolha, é um alívio para a alma usar a internet para encontrar pessoas que se parecem com a gente de alguma forma. Seja na curvatura do cabelo, no tamanho do quadril ou no gosto para séries. É no meu feed que eu encontro inspiração, motivação e identificação.
Mas eu sei que não é assim pra todo mundo.
Queria que isso fosse mais óbvio, sabe?! Até escrevi um desabafo lá no meu Facebook sobre como é importante pensar com carinho nas pessoas que colocamos na nossa vida, no nosso feed e consequentemente nos nossos pensamentos antes de dormir.
Não quero apontar o dedo pra ninguém ou julgar algo que não me diz respeito, mas esse caminho sem volta para qual os criadores de conteúdo da internet estão indo me incomoda um pouco. Não parece a internet que eu tanto curtia fazer parte lá em 2008. Li esse comentário em algum post no Facebook hoje e cortou meu coração:
“@xxxxx E vocês ainda acreditam em blogueiras?! Tenho nojo dessa raça. É um monte de menina mimada implorando por atenção.”
Certa vez ouvi uma palestra nesses eventos de Social Media e nela disseram que existem dois tipos de influenciadores: a pessoa real, com a qual o leitor se identifica e quer conhecer/ser amigo, e a pessoa que vive a vida dos sonhos e faz com que o leitor sonhe com aquela realidade. Algo mais distante mesmo. Como um personagem que você acompanha na série. Identificação x Inspiração. Isso ficou na minha cabeça. Tentei definir em qual das duas categorias eu me encaixo melhor, mas acho que o meu conteúdo é naturalmente um pouco dos dois – principalmente por conta das viagens. E eu faço questão de que permaneça sempre assim.
O problema é que o feed perfeito sempre vai vender mais. A vida #semdefeitos #pazeamor #goodvibes agrada a (quase) todo mundo. E levando em consideração que por trás dos blogs existem empresas, agências e boletos, não é tão difícil imaginar qual é o caminho que a maioria das pessoas segue quando cria um blog ou quando quer que ele faça sucesso. Sinto falta de quando o número não era a coisa mais importante num perfil.
É por isso que eu amei a Jout Jout desde o primeiro dia <3 Ela já começou mostrando que isso felizmente não é uma regra
É complicado porque em geral o que está sendo vendido é um lifestyle que não existe de verdade. Sério. Não-existe-mesmo. Sabe todas aquelas fotos perfeitas que você vê no Tumblr e que algum dia você salvou na sua pastinha de goals? Provavelmente ela foi produzida. O fato de a foto ser bonita não significa que aquelas pessoas eram felizes ou melhor, que as 24 horas do dia daquela pessoa foram tão perfeitas quanto na foto parecem. Ela só escolheu compartilhar aquele momento. E TUDO BEM. Mas alguém precisa deixar isso claro pra você.
Então, mais uma vez: bora parar por 5 minutinhos e prestar atenção se realmente estamos seguindo pessoas que agregam algo na nossa vida?
Darei dois exemplos simples para vocês:
Quando comecei a deixar meu cabelo natural (aka transição capilar), o que me ajudou MUITO foi seguir várias meninas com a mesma curvatura que a minha. Depois de um mês olhando fotos delas sendo maravilhosas e seguras de si, eu comecei a me olhar no espelho e gostar do meu cabelo também. Hoje nem me reconheço com o cabelo grande e liso. É até engraçado. rs
Quando fiz reeducação alimentar, eu parei de seguir todas as musas fitness, porque sabia que aquele não era o meu biotipo e que eu nunca conseguiria ter o mesmo corpo. Primeiro porque tenho outras prioridades na vida e também porque eu realmente AMO COMER. O que eu fiz? Segui várias meninas com quadril largo e culote. Semanas depois, eu já tava curtindo aquele jeans que achava que ~não servia para o meu tipo de corpo~. Posso mudar de ideia amanhã e emagrecer mais? SIM, mas fiz isso porque EU QUERO e não porque as pessoas vão gostar mais de mim se eu for assim, entende a diferença?
Um influenciador só é influenciador MESMO se você se deixar influenciar.
Eu, que trabalho com redes sociais há quase 10 anos, tento fazer o meu ambiente online ser o mais saudável possível. Aprendo coisas novas todos os dias. Passo raiva? Sim. Todo dia, mas tento fazer questionamentos importantes que me ajudam a crescer. Eles sim são super bem-vindos.