Entrei no site da livraria e joguei “expectativas” na busca pra ver se encontrava algum livro sobre o tema. Pensei que talvez houvesse um tipo de guia sobre não criá-las, sei lá. Escrever isso aqui parece tão bobo que dá até vergonha. Sigamos com vergonha, então, mas, naquele momento, liguei o piloto automático e ele decidiu fazer isso aí.
Quando a gente põe a máquina pra governar o homem, às vezes sai umas dessas: tipo quando alguém segue fielmente o Waze até perceber que ele está mandando andar em círculos repetidamente pela quadra.
Não vou dizer que achava a tal busca pelo guia uma boa ideia, porque não achava – mesmo se eu encontrasse um título próximo, não iria comprar. Tenho um certo preconceito com livros que dizem exatamente o que estou procurando, a não ser que tenham sido indicados por alguém. Aqueles que entregam muito fácil a solução de tudo? Não gosto. Por que eu estava procurando, afinal?
Ali, nas prateleiras, havia alguns livros que não pareciam ter muito a ver com o meu pensamento. Agora, mais a fundo, eu vejo que a questão era a minha vontade de encontrar respostas.
Encontrei um sobre gestão de pessoas, que desembocava nas expectativas geradas quando lidamos uns com os outros (aquelas coisas de Administração). Outro era uma coleção de cartas de um senhor para a sua bisneta, contando como a sua vida foi muito além do que ele esperava (ou seja, pra lá da curva de suas expectativas). Já o terceiro vinha com um título exclamativo em cor vibrante – incentivando o leitor a deixar suas expectativas lá em cima. Ué. Isso mesmo: eu estava pensando sobre como não esperar tanta coisa do mundo e aquele livro me dizia para esperar cada vez mais.
Essa moça aqui nunca quebrou a cara – pensei comigo enquanto passava os olhos pela sinopse.
A gente tem mania de achar que sofre ou já sofreu muito mais do que o outro, né? Ali estava eu sendo fantasiosa e achando que aquela escritora nunca encontrou uma nota ruim quando desejava muito passar em uma prova. Ou torcido para que um carinha fosse legal quando, na verdade, ele era um tremendo babaca. Ou ainda tivesse esperanças de ganhar aquela promoção que dá uma viagem e viu que por muito pouco ficou de fora. Que nunca tivesse desejado um mês livre de problemas e só encontrasse ligações conturbadas…
Pfff. É claro que ela já passou por tudo isso, todo mundo passa. Ela apenas teve uma coisa diferente de mim: soube lidar melhor com tudo.
O meu problema é que, quando eu vejo que minhas expectativas caíram todas por terra (e alguém ainda sapateou por cima), eu sou tomada pela raiva – e é uma raiva dupla, porque sei que amanhã vou voltar a criá-las. É um ciclo do qual jamais quis fazer parte, mas sempre estou lá.
Eu sei, eu sei. Tem todo aquele papo que diz que, se não houvesse expectativas, a vida seria morna demais. Muita canja de galinha pela quinta vez na semana quando a gente está esperando pizza quentinha, recheada e saborosa. Este é o problema quando a gente arquiteta uma possibilidade legal: sempre imaginamos algo grandioso. E aí o tombo é maior.
E nisso vem uma autora me falando para esperar mais.
Se eu soubesse lidar com a decepção da expectativa não atendida, ah, aí as coisas seriam diferentes. Para isso não deve mesmo existir manual – nem sei se existe ou se é o caso de aprender sozinha. Mas é por causa disso mesmo que fui procurar o livro, não é?
É. Talvez eu esteja fugindo dos meus próprios aprendizados, segurando a minha evolução e me jogando numa busca vazia para ver se alguém pode me ajudar. E a resposta estava ali: ninguém mais pode.
Lembra da máquina? Lembra do piloto automático? Lembrei das aulas que tive na auto-escola em direção defensiva. A maioria dos acidentes acontece por erro humano. Com as máquinas, está tudo certo. A culpa mesmo é toda nossa.
A culpa da frustração vinha de mim e voltava pra cá. Sou eu que ainda não entendi que preciso aprender a lidar com a ideia de que as probabilidades ruins vão dividir espaço nos nossos dias mesmo que eu não queira isso. E tudo bem esperar por algo diferente no dia seguinte.