Vai chegar o dia em que você abrirá os olhos e não vai mais doer. Mesmo quando olhar para as fotos, lembrar daquele almoço de domingo ou do primeiro dia. Não haverá a sensação de que um buraco fez lar em sua barriga, seguida pelo desespero de desbloquear a tela pra seguir os passos que foram dados sem você, nem o estranhamento suscitado pela ausência.
Você vai ver.
O nome que decorou, aquele que era viciada em pronunciar — que te deixava mole só de imaginar — não mais vai se destacar de todos os outros, e o rosto pelo qual se afeiçoou antes de descobrir que o que morava do lado de dentro requisitava muito mais afeto, não vai mais se triplicar nem replicar a cada esquina, a cada nova multidão.
Quando abrir os olhos na manhã seguinte, após uma noite em que não havia ninguém ao seu lado colocando graça em cada centímetro do planeta Terra, será o dia 1, mais uma vez. Uma nova estação, que não existia antes, quando mãos entrelaçadas não eram apenas um hábito, mas um movimento involuntário natural entre polos de cargas inversas. O toque, o gesto, a presença – artefatos que abriam um portal pra um mundo novo, mas que te excluíam da existência, que em seus altos e baixos já era bonita e completa antes de ele chegar.
Você vai acordar, menina, e não vai estar mais vazia, porque vai descobrir que a presença dele, enquanto se fez, foi um presente, sim, mas que não foi a melhor coisa que já aconteceu na sua vida, porque você é a melhor coisa que poderia estar acontecendo dentro de ti agora. E quando se der conta disso, não vai precisar esquecer, fingir que não existiu, nem desejar que tudo volte a ser como era, porque, finalmente, terá voltado.
Você terá voltado a si mesma.
Por Isabelle Costa, 21 anos, Rio de Janeiro (RJ)
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